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TRADIÇÃO
Em sua primeira decisão, Tombini repetiu os antecessores

Na quarta-feira 19, por volta das 16h30, um descontraído Alexandre Tombini entrou na sala de reuniões do 20º andar do edifício-sede do Banco Central, em Brasília, para iniciar o segundo dia de discussões sobre o futuro da taxa de juros. Os outros seis diretores do BC já se encontravam no local. Com um fichário preto, agenda e caneta Bic numa das mãos e um celular blackberry na outra, Tombini se mostrava tranquilo para sua estreia no comando do Comitê de Política Monetária (Copom). Havia algo diferente no ar. Desde junho de 2005, o presidente do Banco Central participa dessas reuniões – ao todo já foram 47 –, mas, pela primeira vez, não havia na sala um economista experimentado no mercado financeiro, além do próprio Tombini. Depois de quase quatro horas de uma conversa técnica, baseada em modelos e indicadores do BC, o Copom da era Tombini apresentou seu cartão de visitas. Por unanimidade, o colegiado elevou a taxa básica de juros de 10,75% para 11,25% ao ano, o que representa o maior patamar desde março de 2009. O objetivo é encarecer o crédito para atacar a inflação.

Durante a reunião do Copom, ao analisar a evolução e as perspectivas para a economia brasileira e internacional, os integrantes da mesa sugeriram um aumento de 0,75 ponto percentual, em vez de 0,5. Ao optar por uma alta de meio ponto, a diretoria do BC mostrou que ainda confia nos resultados da redução de gastos de cerca de R$ 30 bilhões por parte do governo, conforme meta estabelecida pela presidente Dilma Rousseff. Em nota, o Copom disse que está “dando início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas.” Ao se referir às ações “macroprudenciais” da equipe econômica, o Banco Central fez um aceno amistoso aos colegas do Ministério da Fazenda. Na visão da Fazenda, a inflação é causada por fatores temporários, como a valorização das commodities, e os preços tendem a se acomodar nos próximos meses. O BC, por enquanto, assina embaixo.

O mercado aposta que haverá mais dois aumentos de 0,5 ponto até a Selic se estabilizar e voltar a cair. A decisão do Copom deixou clara a preocupação em evitar que o aumento de preços, mesmo que sazonal, contamine a economia. “O aperto não deve ser composto de muitas altas de juros. O Copom colocou um pouco de água na fervura”, diz o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani. Como sucessor de Henrique Meirelles, Tombini precisava fazer conhecer sua autonomia e também seu compromisso de não deixar correr frouxo o aumento de preços. Nada indica, porém, que o BC esteja vendo maiores turbulências à frente. E, acima de tudo, continua de pé a disposição da presidente Dilma de ver os juros caírem a médio prazo. “O ciclo de aumento dos juros deve ser curto para, inclusive, não afetar ainda mais o câmbio. Os juros não vão demorar a cair em 2012”, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio.

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