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CERCO
Militares se preparam para atacar guerrilheiros:
história sem fim

Queria vê-lo uma única vez antes de morrer, meu filho.” Foi com esse apelo emocionado que Carmem Navarro, 80 anos, encerrou a carta que escreveu no final do ano passado a Hélio Luiz Navarro Magalhães. O ex-militante do PCdoB, codinome Edinho, é dado como morto desde março de 1974, um mês depois de ter sido preso por militares. A carta de Carmem foi entregue, por intermediários, a um oficial reformado da Marinha, que garante manter contato com o ex-guerrilheiro, que estaria vivendo há 40 anos com nova identidade. Dona Carmem não quis dar entrevista, mas o conteúdo da carta foi confirmado por seu advogado, Márcio Donnici. Magalhães não seria o único dos desaparecidos da guerrilha do Araguaia a desfrutar de uma vida clandestina. Luís René da Silveira, Antônio de Pádua Costa, Áurea Elisa Valadão e Dinalva Oliveira Teixeira também são apontados como “mortos-vivos” em relatório do Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), formado por militares, pesquisadores e familiares de desaparecidos políticos. O núcleo foi criado pelo Ministério da Defesa para tentar encontrar as ossadas de 69 guerrilheiros mortos pelo Exército nos anos 70, na região de Xambioá (TO).

Não é de hoje que surgem relatos de que guerrilheiros presos pelos militares no Araguaia foram poupados das execuções. A maioria foi morta pelo Exército, que se nega a revelar onde estão os corpos. A novidade é que o Ministério da Defesa e a Advocacia-Geral da União (AGU) encaminharam um ofício à Justiça Federal pedindo que a PF investigue se os cinco ex-militantes do PCdoB estão vivos. O pedido foi baseado em depoimentos colhidos pelo GTT entre camponeses e ex-militares. Nenhuma das testemunhas, porém, oferece evidências. “O que queremos é ter instrumentos legais para avançar na investigação”, diz a pesquisadora Myriam Alves, que integra o GTT. A juíza Solange Salgado deu parecer favorável ao ofício, mas a Polícia Federal decidiu não apurar o caso, alegando que se trata de uma investigação administrativa, e não judiciária.

A investigação tem poucas chances de progredir. Para alguns familiares de desaparecidos, a iniciativa seria uma tentativa de desviar o foco da busca pelas ossadas dos guerrilheiros. “É um deboche”, diz Beth Silveira, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais e irmã de Luís René. “Não apresentaram uma prova de que possam estar vivos. Isso é uma tortura para os familiares.” A ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, vai na mesma linha. “Trabalhamos com a convicção de que os desaparecidos foram executados e tiveram seus corpos subtraídos. Vamos continuar essa busca se houver informação precisa, não só para jogar confusão.”

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