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Dublê atua em “Homem-Aranha”.
Uma atriz principal e outro dublê já se
feriram nas apresentações

 

Um ator de musicais canta, dança e, claro, interpreta. Sempre foi assim. Hoje, além dessas habilidades básicas, se pede mais: ele precisa saber se equilibrar em palcos giratórios, usar elevadores para mudar de cena, escalar cenários como um alpinista e até mesmo voar sobre a plateia, dependurado em cabos e elásticos.

A competição de efeitos especiais e de recursos circenses com as empolgantes canções e coreografias chegou ao ápice em “Homem-Aranha”, o aguardado musical composto por Bono e The Edge, do U2, que se encontra há mais de um mês em pré-estreia na Broadway, em Nova York,
e já se posicionou como o campeão de bilheteria. É a mais longa temporada de ensaios abertos na história do famoso conglomerado de teatros, não bastasse ser também a mais cara produção do gênero – US$ 65 milhões. Sua estreia oficial vem sendo adiada repetidamente e a causa é justamente a dificuldade de ajustar a complexa tecnologia para tornar possível os saltos do super-herói num completo zigue-zague pelo teatro. Numa das apresentações, o elástico que sustentava um dublê se partiu e ele despencou de um cenário de nove metros de altura, representando a ponte do Brooklyn. Uma semana depois, foi a vez da atriz que encarna uma aranha abandonar o elenco ao ser atingida por uma corda do complicado aparato que a mantinha presa à sua vistosa teia. “A Broadway é um negócio que atrai público do mundo inteiro e precisa sempre se reinventar”, afirma o diretor Charles Möeller. “Depois da fase dos cenários gigantescos e do uso de projeções, se investe agora na invasão da plateia pelos atores e nas imagens praticamente em 4D.”
 

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TECNOLOGIA “Wicked” exibe
truques dignos de cinema

 

Antes de “Homem-Aranha”, outros espetáculos já vinham fazendo sucesso com o mesmo artifício, caso de “Wicked”, recentemente destronado pelo concorrente nas bilheterias. Embora desaprove o que chama de “efeito pelo efeito”, Möeller também vai colocar suas feiticeiras para voar em “As Bruxas de Eastwick”, que estreia em São Paulo em abril. Isso certamente vai atrair público para o musical, mesmo que ao custo de preocupações a mais.

Na estreia de “Sweet Charity”, direção sua, o elevador que levaria para o alto a protagonista Cláudia Raia emperrou. “Foi um vodu, isso só acontece uma vez em cinco mil anos”, diz Möeller. Mas, quando ocorre, não tem jeito: a saída é mandar todo mundo de volta para casa com educação e um sorriso amarelo. Se o público é infantil, tem-se uma choradeira generalizada, trilha sonora da abertura de uma temporada passada de “Aladin”, em São Paulo. O tapete mágico não funcionou. Para evitar esse tipo de acidente – e de outros piores envolvendo o elenco – os equipamentos são sempre testados antes do início do espetáculo. A atriz Luana Martins, 20 anos, que encarna Peter Pan no musical homônimo, faz esse ritual todos os dias de show no Teatro Alfa, em São Paulo. Hoje ela tem total confiança nos operadores do trilho computadorizado que a coloca para flutuar a seis metros de altura e durante dois minutos no musical, visto por mais de 100 mil espectadores. Mas na época dos ensaios o cabo que a sustentava se rompeu. Para não ficar visível, testou-se um fio muito fino que não suportou os 49 quilos de Luana. Sorte que existia uma rede: “Foi um susto, mas já passou. Agora eu me empolgo e dou até algumas cambalhotas a mais.”

 

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Embora nunca tenha feito uso de cabos, o ator Daniel Boaventura, que fará Juan Domingo Perón na nova montagem de “Evita” (prevista para 26 de março, em São Paulo), é a favor da preparação física para essas novas exigências. Ele lembra que se divertia muito quando participou de “A Bela e a Fera”. Tinha que cair de costas de uma grande altura e, mesmo sabendo que seria protegido por um colchão d’água, sempre ficava ansioso na hora da cena. “No início eu olhava ­para trás, mas, depois de 200 apresentações, a coisa fica mecânica e você se habitua.” Ainda assim, é preciso se jogar com suavidade e estilo. Imagine então o domínio exigido para cantar e voar com graça como acontece em “Mary Poppins”, sucesso da Broadway, em que um bailarino até sapateia suspenso e de cabeça para baixo. “Para sair voando tem que ter treinamento. Não adianta ficar lá em cima parecendo um peixe morto”, diz Billy Bond, o diretor de “Peter Pan”. À frente da produção de Evita (que não terá esse tipo de chamariz), o diretor Jorge Takla acha que essa onda de efeitos é uma influência do cinema de ação: “A moçada gosta, a Broadway está de olho nas plateias jovens.” “Homem-Aranha” não passa, portanto, de uma investida nesse filão. “O teatro vai estar sempre lotado de gente para ver se o ator se esborracha. É aquela coisa do circo, o público gosta de sangue”, diz.
 

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MAGIA Em “Mary Poppins”,
Caroline Sheen sobrevoa a plateia

 

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