Ordem e progresso: vontade construtiva na arte brasileira/ MAM-SP/ de 27/1 a 3/4

 

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Pintura de Iran do Espírito Santo

“Brasília é artificial. Tão artificial como devia ser o mundo quando foi criado.” Assim escreveu Clarice Lispector em 1962, dois anos depois da inauguração da terceira capital do Brasil, símbolo máximo do modernismo brasileiro. O que para Clarice é artificialidade, para o arquiteto Oscar Niemeyer é “concisão e pureza”. No Brasil dos anos 50, essas eram as duas grandes metas da modernidade, as formas estéticas que melhor exprimiam a vontade construtiva que tomou conta do Brasil nos anos de Juscelino Kubitschek – anos de moeda forte e de industrialização promissora. Hoje, na esteira da posse da nova presidente do País e da recuperação econômica, a exposição “Ordem e progresso: Vontade Construtiva na Arte Brasileira” revisa as mudanças nos projetos de Brasil desde o pós-guerra até a era Lula.

O ponto de partida é o rigor geométrico modernista, aparente nas criações de artistas concretos como Anatol Wladyslaw, Lygia Pape, Lothar Charoux e Ivan Serpa. Mas se os anos dourados, com seu ideal de país do futuro, seriam metralhados pelo chumbo da ditadura militar, nas artes plásticas a natureza pura e concisa do projeto moderno também seria lentamente desconstruída. Isso está explícito nas três gerações que fotografam Brasília, com obras na exposição: Thomas Farkas, Orlando Brito e Mauro Restiffe.

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Foto de Orlando Brito são leituras do País 

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“A oposição entre uma potência ordenadora e outra desagregadora alimenta a produção brasileira dos últimos 60 anos. Nossa modernidade se daria, assim, por avanços e recuos: não de modo linear, mas torto, tal como as veredas dos pedestres em Brasília”, pontua o curador Felipe Chaimovich no texto do catálogo. Transgridem o rigor formal construtivo as obras de protesto, produzidas nos anos 60 por Regina Silveira, Paulo Bruscky, Antonio Manuel, entre outros. Nos anos de abertura, surgiriam ainda outras visões de Brasil, para além dos ideais de ordem e do progresso. Como “A Noite”, de Iran do Espírito Santo, em que a bandeira brasileira se resume a um céu estrelado. Ou obras como “Camelô”, de Cildo Meireles, e “Do Universo do Baile”, de Dias & Riedweg, que hoje traduzem os processos construtivos nascidos da economia informal de um Brasil plural.


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