Sabe aquele lanchinho fora de hora que cães e bichanos tanto adoram? E a ração, sempre farta e à disposição o dia inteiro, intercalada com biscoitos e outros agrados? Esse tratamento cuidadoso pode parecer inofensivo à saúde desses bichos. Mas não é. Um estudo inédito realizado pelo Centro Nestlé Purina de Pesquisa e Desenvolvimento, nos Estados Unidos, mostrou que animais que se alimentam de forma controlada – em pequenas quantidades e em horários determinados – têm dois anos a mais de expectativa de vida e incidência tardia de doenças relacionadas ao envelhecimento.

A pesquisa foi feita com 48 cães labradores divididos em dois grupos e acompanhados desde o nascimento até a vida adulta: de um lado, os que recebiam alimentação em horários predeterminados e em quantidade reduzida e, de outro, os que comiam à vontade. Todos receberam ração completa e balanceada, mas a porção oferecida aos primeiros era 25% a menos. “Os animais que tiveram restrição alimentar adquiriram uma massa corporal ideal, ou seja, com um pequeno índice de gordura. Também apresentaram níveis menores de insulina e glicose e baixas taxas de gordura no sangue”, conta o médico veterinário Roberto Vituzzo, gerente de informação veterinária da Nestlé. “Sintomas de doenças como osteoartrite, comum em cães, apareceram tardiamente e foi reduzida a incidência de sinais associados à idade, como focinhos grisalhos”, completa.

O resultado da pesquisa, que está sendo divulgado em clínicas e faculdades veterinárias de todo o País, trouxe à tona o problema da obesidade em animais domésticos. Cerca de 30% dos que chegam às clínicas estão com excesso de peso – ou pelo menos 20% a mais do que o normal. Para os especialistas, um dos fatores que contribuem para que isso aconteça é a castração, que reduz a quantidade de hormônios e deixa o animal prostrado. Há também aqueles que têm predisposição genética (leia quadro). Mas o principal responsável por esse distúrbio, em geral, é o próprio dono, que exagera na alimentação e não incentiva a atividade física. “Fatores genéticos influenciam, mas, em muitos casos, a obesidade é reflexo do sedentarismo dos donos. Muitos vivem em apartamentos e saem pouco para passear com o cão”, explica o cardiologista veterinário Mário Marcondes dos Santos, diretor do hospital veterinário Sena Madureira e do Spa Cãotry Club, em São Paulo. Ele explica que, como acontece entre os humanos, o excesso de peso pode causar doenças também nos animais, como diabete, hipertireoidismo, problemas cardíacos, circulatórios, articulares e hepáticos. “Se algum problema for diagnosticado, o animal deve fazer uma dieta com baixo teor calórico e praticar exercícios físicos”, diz o cardiologista. No caso dos felinos, vale brincar dentro de casa mesmo, com bolinhas e outros brinquedos.

Para garantir a alimentação correta, uma dica é seguir as recomendações que as rações trazem em seus rótulos. O cardiologista Marcondes dos Santos sugere que os cães sejam alimentados até três vezes ao dia. Os filhotes, por estarem em fase de desenvolvimento, podem receber essa porção em dobro. Já os felinos comem durante todo o dia, mas é fundamental não ultrapassar a quantidade sugerida. “Uma ração de qualidade administrada nas quantidades certas supre todas as necessidades do animal”, afirma ele.

O alerta para a prevenção também vem das empresas que produzem alimentos para cães e gatos. Algumas criaram linhas específicas para esse fim. A Purina, por exemplo, oferece a Proplan com caloria reduzida para cães e a Proplan Indoor para gatos que vivem em apartamentos. A Royal Canin criou a Mini Light e a Maxi Light para os totós com predisposição ao excesso de peso. A Light 38, rica em fibras, é indicada para felinos castrados com tendência à obesidade. De acordo com o veterinário Yves Miceli, responsável técnico da Royal Canin no Brasil, após a esterilização os gatos tendem a ficar mais tempo fazendo sua higiene e com isso ingerem pêlos que causam sérios problemas digestivos. “Os alimentos ricos em fibras ajudam a prevenir a formação de bolos de pêlos no estômago”, explica Miceli.

Com diagnóstico de obesidade, os irmãos da raça bulldog Ônix e York, com três anos, trocaram a comida farta e as longas horas de cochilo por sessões de hidroginástica e esteira duas vezes por semana em um spa. Além disso, os cães – que pesam 37 e 40 quilos, 15 a mais do que o ideal – fazem um tratamento de acupuntura. Tudo isso acompanhado por uma dieta de baixo teor calórico. A mudança de comportamento veio depois que o endocrinologista constatou uma displasia (deformação óssea no fêmur) e problemas nas articulações. “Eles são muito preguiçosos e não gostavam de passear. Só não tinham preguiça para comer. Além da ração enriquecida com carne moída, comiam lanchinhos o dia todo”, conta a empresária paulista Priscila Rocha, dona dos cães. Há dois meses malhando, a dupla ainda não fez cair o ponteiro da balança, mas já melhorou o condicionamento físico e tem mostrado disposição para as atividades. Só falta parar de pedir comida.