No final de junho, a cúpula do PT paulista reuniu-se para discutir como devolver ao ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), a Coordenação Política do Governo, hoje nas mãos de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Já na quinta-feira 8, Dirceu atuava abertamente nessa seara: liderou reunião que discutiu o projeto que autoriza a reeleição das Mesas do Congresso, junto com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), com o líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), e com líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Treinado nos velhos manuais chineses da guerra, o comunista Rebelo recebeu ISTOÉ no dia seguinte, para um café da manhã. Ora sutil, ora esquivo, mostrou que será um guerreiro preparado.

ISTOÉ – Farto este café da manhã.
Aldo Rebelo
– Na Geórgia (país que foi república da extinta URSS), diz-se que o segredo da longevidade está em como você se alimenta. Na primeira refeição, deve-se tomar a sua e a do inimigo. Na segunda, divide-se a mesa com o adversário. A refeição da noite é entregue ao inimigo. Assim você viverá muito e ele, pouco.

ISTOÉ – O sr. esteve na reunião comandada por Dirceu sobre a reeleição das Mesas do Congresso. O projeto volta à pauta para reeleger João Paulo, mas no Senado o governo apóia Renan Calheiros (PMDB)?
Aldo
– Parece que essas reuniões são feitas para ser vazadas (risos). Acho que nada ficou decidido.

ISTOÉ – Ficou claro para todo mundo que a escolha do presidente do Senado terá que passar pelo PMDB?
Aldo
– Se tudo tivesse claro, não precisava esse tipo de conversa.

ISTOÉ – O governo continua de fora?
Aldo
– Imagino que sim. A não ser que haja outra decisão do presidente.

ISTOÉ – Essa é a posição do PT.
Aldo
– A posição do governo não pode ser necessariamente a mesma dos partidos.

ISTOÉ – Isso o coloca em confronto como PT. O sr. se sente cercado?
Aldo
– Não. Tenho trabalhado com o PT e o presidente desde a campanha de 89. Isso me dá muita tranquilidade.

ISTOÉ – O sr. não ficou incomodado com aquela reunião da cúpula do PT, que defendeu sua saída da Pasta?
Aldo
– Foi a versão de alguns órgãos de imprensa. Os integrantes da reunião me disseram que não houve tal decisão.

ISTOÉ – Eles confirmaram que houve aquela conversa.
Aldo
– Eu não pedi detalhes. Se fosse para me dar detalhes, teriam me convidado para a reunião (risos).

ISTOÉ – E como anda sua relação com o ministro José Dirceu?
Aldo
– Sempre foi boa, com identidade política. Tive seu apoio quando fui líder do governo na Câmara e sua solidariedade quando o presidente me chamou para a Coordenação Política.

ISTOÉ – Diz o PT que Dirceu está voltando para essa atividade, como na reunião para discutir a reeleição.
Aldo
– A coordenação política exige a participação coletiva. E o ministro Dirceu, até por sua importância, não pode ficar à margem da atividade política. Minha função é a coordenação, mas isso não pode excluir nenhum ministro.

ISTOÉ – O sr. acha que o ministro Dirceu é stalinista?
Aldo
– Nós dois somos chamados de stalinistas há muito tempo. O ministro Dirceu é um bom companheiro (risos).

ISTOÉ – Não é demérito ser um stalinista?
Aldo
– Para mim, não. Se a isso chamam capacidade de resistir a adversidades como Stálin (Josef Stálin, ditador soviético, nascido na Geórgia), que enfrentou a invasão nazista, eu não tomo como ofensa.

ISTOÉ – Nesse aspecto, o sr. e o ministro Dirceu são parecidos.
Aldo
– Pode ser.

ISTOÉ – Então essa briga entre vocês dois é ruim.
Aldo
– Essa briga não existe.

ISTOÉ – Se o presidente o convidar para o Ministério da Defesa, como já foi comentado…
Aldo
– Não creio, porque o ministro José Viegas faz um grande trabalho e tem o apoio do governo.

ISTOÉ – O sr. pretende continuar na coordenação política?
Aldo
– Nós não somos proprietários da nossa Pasta. A decisão é do presidente.

ISTOÉ – Mas o sr. está confortável aqui?
Aldo
– Quando cumpro minhas obrigações, estou sempre confortável.

ISTOÉ – Quais os projetos que o governo quer ver aprovados neste ano?
Aldo
– Julgamos importantes projetos cuja aprovação está em curso, como as Parcerias Público-Privadas, a Lei de Falências, aprovada nas duas Casas, mas que volta para a Câmara porque foi modificada no Senado. Há ainda a Lei de Inovação Tecnológica, a Lei de Biossegurança e a legislação sobre a construção civil.

ISTOÉ – Qual sua previsão para o desempenho do governo nas eleições?
Aldo
– Os partidos da base governista sairão vitoriosos. Os mais fortes no interior vão crescer nas capitais. Os mais presentes nas capitais, como o PT, vão ganhar espaço nas médias e pequenas cidades.

ISTOÉ – Perder em São Paulo será um desastre?
Aldo
– Não vamos perder. Marta Suplicy fez uma das melhores administrações de São Paulo.