Em duas das mais importantes cidades do Rio de Janeiro, as lideranças políticas estão dando um nó na cabeça do eleitor. O PFL decidiu apoiar os candidatos do arquiinimigo PT em Niterói, capital do antigo Estado do Rio, e em Nova Iguaçu, a quarta maior cidade fluminense. Mas, na capital, os dois partidos se enfrentam com as candidaturas do prefeito Cesar Maia e do deputado Jorge Bittar, uma das prioridades do PT nacional que escalou para a missão o publicitário Nizan Guanaes. O apoio de Cesar ao deputado Lindberg Farias em Nova Iguaçu e ao prefeito Godofredo Pinto em Niterói foi costurada por Rodrigo Maia, filho do prefeito do Rio e um dos mais ferozes opositores do governo na Câmara dos Deputados. A articulação teve a participação de Marcelo Sereno, secretário de Comunicação do governo Lula e homem de confiança do ministro José Dirceu.

“Não fizemos qualquer aliança para governar juntos e meu apoio ao Jorge Bittar é total”, apressa-se em repetir o prefeito de Niterói, sem esconder que usará como puder a imagem de Cesar em sua campanha. “Ele é um grande eleitor”, reconhece. “Vamos vencer em Niterói”, diz Cesar, com uma animação de militante petista. A manutenção de Godofredo Pinto no cargo em Niterói é estratégica para o PT, que só fez um prefeito no Estado em 2000. Eleito vice na chapa de Jorge Roberto Silveira (PDT), ele assumiu o cargo com a saída do prefeito para disputar o governo em 2002. A aliança entre PT e PDT foi quebrada este ano quando Jorge Roberto, o maior cabo eleitoral de Niterói, decidiu lançar o ex-prefeito João Sampaio. Mas quem lidera as pesquisas é o ex-governador Moreira Franco, do PMDB da governadora Rosinha Garotinho, tendo como vice o advogado Sérgio Zveiter, do PL.

Em Nova Iguaçu, o PT lançou a candidatura de um ícone, Lindberg Farias, para disputar a sucessão do peemedebista Mário Marques, apoiado pelo casal Garotinho. Lindberg, hoje com 34 anos, é o mais conhecido dos líderes estudantis que agitaram
o País exigindo o afastamento de Fernando Collor em 1992. O PFL não é o único estranho no vasto ninho da sua coligação: o PSDB também aderiu ao cara-pintada. Mas o apoio heterodoxo ainda não foi suficiente para reverter o favoritismo do ex-deputado Fernando Gonçalves, do PTB.

Se a dança exótica dos partidos já causa estranheza no primeiro turno, o segundo promete mais saia-justa. Na capital, Cesar Maia tem possibilidades de vencer já no primeiro turno, mas os programas eleitorais não começaram e a variedade de candidatos fortes leva a crer que haverá segundo turno. Se o ranking atual das pesquisas for confirmado, o prefeito enfrentará o senador Marcelo Crivella (PL), líder da Igreja Universal, no round final, o que novamente colocará o PT em situação de constrangimento. O PL de Crivella integra o governo Lula, inclusive com o vice-presidente, José Alencar, mas o eleitorado petista não engole seu discurso, misturando política com fé religiosa.