Nos últimos dois anos, ISTOÉ dedicou três de suas capas a tragédias provocadas por chuvas torrenciais. Outras reportagens repletas de entulhos, lama, dramas e mortes ocuparam as páginas internas da revista. As histórias de famílias desfeitas, vidas e cidades destruídas repetem-se nas causas, nas imagens, nas narrações, na indignação. Para quem tem a tarefa de contá-las ao público, choca também a sensação de que, trocados os nomes das vítimas e dos locais e atualizados os números (tristemente cada vez mais assoladores), seria possível republicar os mesmos textos e fotos e ninguém perceberia. A rotina de catástrofes tem o efeito de uma avalanche moral, que nos atinge com frequência cada vez maior. Três capas nos últimos dois anos (quatro com a desta edição), duas delas no espaço de pouco mais de três meses, em 2010. Sempre no verão. Podemos já pensar na de 2012? 

As reportagens de ISTOÉ não se resumem a relatar fatos. Cobram providências, instigam discussões, tocam em feridas abertas por décadas de descaso. Em janeiro de 2010, por exemplo, quando o Brasil ainda velava os 138 mortos em tragédias simultâneas e similares em três diferentes Estados, o texto mostrava como a ocupação ilegal e desenfreada de áreas de risco potencializava o impacto dos fenômenos meteorológicos, transformando tempestades em chacinas. E apelava para a imediata adoção de medidas como a remoção das populações dessas áreas e a implantação de normas de construção e ocupação mais adequadas a uma era de clima cada vez mais inclemente. Em abril, 256 pessoas padeceram do mesmo mal. Não se foram nove meses e a contagem de corpos não para na região serrana do Rio de Janeiro. Já vimos o fi lme, sabemos o enredo, mas podemos mudar o seu fi m. Se não há como conter a fúria da natureza, o Brasil dispõe de meios para salvar vidas através de prevenção, organização, gestão de riscos, informação. É preciso contar outras histórias, de desenvolvimento, avanço, futuro.


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