Engana-se quem pensa que para interagir com a obra de arte só valem os games, os ambientes imersivos ou outras sofisticações derivadas do encontro da arte com a tecnologia. A exposição em cartaz no Oi Futuro mostra que, antes das instalações interativas, o vídeo já transportava o espectador para o centro da cena e exigia sua participação. Diante da obra de Gary Hill, pressente-se que a imagem de vídeo não necessariamente pertence à categoria das ilusões e pode ser tão real quanto o espectador que olha para ela.

Este é o efeito provocado pela videoinstalação "Viewer" (1996), que coloca uma incômoda questão para quem entra na sala: quem é o observador e quem é o observado? Em 14 metros de projeção, a obra enfileira 17 homens em escala real, que olham para os visitantes da instalação. Uma observação atenta desse elenco leva à percepção de tratar-se de um grupo de etnias diversas. A obra cria desconforto ao colocar esses homens – trabalhadores imigrantes – em espelhamento direto com o público da instalação, originalmente formado por cidadãos norte-americanos. Subliminar à imagem, uma crítica à cizânia entre mundos.

"Wall Piece" (2000), performance feita para vídeo, utiliza-se de elementos das artes cênicas: luz, palco, um corpo em ação e um texto.

O modo como o personagem salta contra uma parede, sendo "fotografado" por flashes de luz estroboscópica, faz lembrar os desenhos da série "Men in the Cities" (1979-1982), de Robert Longo. Com a diferença de que aqui o personagem emite uma palavra a cada pose congelada, declamando afinal um texto.

O público também é jogado para dentro da obra quando a mesma luz estroboscópica do vídeo se repete na sala de exposição.

Ao contrário de artistas que se apoiam sobre o ilusionismo, Gary Hill produz distorções sobre as imagens espelhadas. Com isso, gera a dúvida sobre os limites entre o real e o ilusório.