Autor de três histórias policiais que viraram best-seller em todo o mundo, o jornalista e escritor sueco Stieg Larsson morreu em 2004, antes de ver seus livros publicados – tinha 51 anos e sofreu um infarto fulminante. Hoje, a trilogia "Millenium" já vendeu mais de 15 milhões de exemplares, virou filme e o seu criador já é tão popular entre os fãs quanto os protagonistas por ele criados – o destemido jornalista Mikael Blomkvist e a espertíssima hacker Lisbeth Salander.

A morte precoce de Larsson e a disputa familiar pelo faturamento de seus livros acabaram por ofuscar a sua biografia e trajetória literária, as quais agora vêm despertando curiosidade crescente. Entre as novidades divulgadas na imprensa sueca está o fato de o autor ter ideias esboçadas para outros seis romances e de o arquivo com 300 páginas salvo em seu laptop não se referir ao quarto romance da série "Millenium", como foi noticiado, mas ao quinto. Essa revelação causou frisson nos fãs do autor sueco.

Quem trouxe a novidade foi o jornalista de origem turca Kurdo Baksi, amigo do escritor e que aparece como personagem no terceiro livro da saga policial, "A Rainha do Castelo de Ar" (será lançado no Brasil em setembro pela Companhia das Letras): "Ele planejou uma série de dez livros, os quais escrevia simultaneamente. Essas 300 páginas são de um quinto volume. O quarto foi destruído por ele, que não gostou do resultado." Baksi foi o único personagem real que não teve o nome trocado na ficção. Larsson dizia que ele era como um irmão e não se incomodaria em ser citado.

O que de fato aconteceu. Eles se conheceram em 1992, em uma agência de notícias na Suécia. Trabalharam juntos na revista Expo, que investigava movimentos antidemocráticos e era editada por Larsson, um esquerdista obstinado. O jornalista turco conta que o amigo foi seu ghost-writer, preparando textos que ele assinava sem ler. "Era muito hábil com as palavras e sabia que faria sucesso. Chegou a dizer que seria o escritor mais conhecido na Suécia", diz.

Baksi acredita ser improvável que o livro inacabado seja finalizado por outro autor: "É como se alguém se atrevesse a terminar um quadro que Van Gogh deixasse inacabado." O perfil que se desenha do escritor é o de um workaholic que dormia pouco, fumava de dois a quatro maços de cigarro por dia, consumia muito café e trabalhava em mil atividades de uma só vez. Boa parte dessas atividades era mantida em sigilo. Sabe-se que suas posições políticas o levaram a se indispor com políticos conservadores – qualquer semelhança com as tramas vividas pelo personagem Blomkvist não é, portanto, mera coincidência.

O expert em mistérios Larsson se tornou ele próprio um escritor cercado de segredos. "Hoje ele se transformou em um mito", disse recentemente Marc de Gouvenain, editor e cotradutor da trilogia na França. E como todo mito, segundo ele, já anda merecendo uma biografia. Vem aí um próximo "Millenium".

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