No mundo das academias de ginástica, tornou-se frequente a ordem de reinventar modelos de aulas que fazem sucesso entre os alunos. Foi assim com a musculação, que deu origem a circuitos mais divertidos, alternando o monótono sobe e desce do peso com pausas para alongamento ou pequenas corridas, ao som de músicas animadas. Agora é a vez de a ioga se multiplicar em diversas versões. As ásanas (posturas preconizadas pela modalidade) e os pranayamas (exercícios respiratórios) vêm sendo adaptados às técnicas do fitness e começam a ser praticados de modo diferente nas piscinas, em barras de exercícios, estúdios de pilates e até em espaços de acrobacia.

O difícil é enxergar a ioga nessas aulas. Em algumas, os movimentos são tão distintos que é preciso atenção para reconhecer, ali, algo da prática. Na ioga gravitacional, por exemplo, o aluno desavisado pode achar que está em uma aula de circo. Nessa versão os praticantes fazem as posturas suspensos no ar. Com auxílio de um equipamento, batizado de Gravity Power System (GPS), eles passam 30 minutos alçados pelo tornozelo ou pelo pulso para realizar os movimentos.

O criador do aparelho é o professor Pedro Goulart de Andrade, para quem não há nada mais benéfico para o realinhamento do corpo do que ficar pendurado por vários minutos. "É simples e funcional respirar flutuando totalmente entregue à força da gravidade", defende. Para inventar o GPS, Andrade buscou inspiração no paraquedismo, atividade que realizou durante muitos anos. "Estava com problemas na coluna e não podia mais praticar esse esporte. Resolvi unir o paraquedismo com a ioga."

Nas aulas de acroioga, o estranhamento pode ser o mesmo. As sessões combinam as posturas com acrobacias, massagem e meditação. Os exercícios podem ser feitos individualmente, em duplas e trios. Nessas horas, é possível se deparar com ajuntamentos de pessoas em poses que lembram apresentações circenses. "É uma forma divertida e eficiente de trabalhar o corpo, a mente e as relações humanas", diz Elaine Fong, do Instituto União, de São Paulo, um dos locais onde é possível encontrar essa variante.

De fato, essas adaptações têm atraído cada vez mais alunos, entediados com as aulas convencionais oferecidas nas academias. "São opções mais atraentes e dinâmicas", afirma Bartira Elia, professora de ioga do First Studio, em São Paulo. Lá, uma das aulas é a ioga com bolas, bastante procurada por quem deseja algo suave ou tem alguma limitação física que impede a realização de exercícios mais vigorosos. "O uso da bola minimiza as dificuldades", explica Bartira. "Ela facilita a execução de posturas difíceis." Mas ela também pode servir para exercícios mais complexos.

Na mesma linha funciona a ioga dentro da água. Neste caso, o objetivo é usar a piscina para amenizar eventuais impactos que a realização dos movimentos pode causar. Não se sabe com certeza quem adaptou a modalidade, mas deu tão certo que muitos centros de natação aderiram. Um deles é o Ecofit, em São Paulo. Os movimentos de força e flexão são executados em barras de sustentação instaladas na beira da piscina. "Embora as atividades não tenham o grau de complexidade da ioga tradicional, o aproveitamento é muito bom", afirma Luciana Perez Fernandes, professora da Ecofit.

O grande problema de todas essas variações é que elas deixam indignados os seguidores mais ortodoxos. São pessoas para quem a verdadeira ioga jamais poderia ser transformada em atração de academia. Tampouco levar o seu nome. "São apenas exercícios corporais", critica Anderson Allegro, diretor da Aruna Yoga, centro de formação de profissionais, de São Paulo. "Portanto, jamais deveriam ser chamados de ioga."

Realmente, se considerada na sua essência, a ioga está longe do que se vê hoje nas academias. Criada na Índia há cinco mil anos, ela nasceu como uma filosofia de vida, da qual as posturas são apenas uma parte. Seu objetivo é levar o indivíduo a um estado de consciência elevado por meio da meditação, dos exercícios respiratórios e do entoar os mantras (cantos devocionais).

Desde que começou a conquistar o Ocidente, contudo, a ioga foi ganhando uma face mais de malhação e menos de filosofia de vida. Essa característica atingiu seu ápice há cerca de dez anos, quando muito da festejada boa forma de Madonna e de outras celebridades, por exemplo, foi atribuída à prática das posturas. E elas realmente trazem benefícios inegáveis. A execução dos movimentos mobiliza tal quantidade de músculos, muitos não trabalhados no fitness convencional, que logo o corpo toma uma forma invejável. Mas os responsáveis pelas novas aulas garantem que os exercícios trazem, sim, maior equilíbrio mental.