O uso do espaço público nas grandes cidades é um desafio. Sobretudo porque algumas regras básicas de boa convivência não são respeitadas. Por exemplo, tentar sair de um vagão do metrô com uma multidão do lado de fora querendo entrar a qualquer preço, sem esperar e dar passagem aos demais usuários. Ou andar por ruas sujas de lixo, fezes de cachorro e com cheiro de urina. São situações que transformam o convívio urbano em uma experiência ruim. A saída é a educação. Convencidos disso, empresas e governos estão bombardeando a população com campanhas de conscientização – e multas, quando só as advertências não funcionarem. Independentemente da estratégia, o senso de urgência para uma mudança de comportamento na sociedade brasileira veio para ficar.

A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) viu o número de usuários disparar. Há dois anos, 4,2 milhões de pessoas por dia foram transportadas em todo o sistema da cidade, que inclui a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Hoje, são 5,5 milhões de passageiros, um crescimento de mais de 30%. Infelizmente, a falta de bom senso cresceu junto. A aposentada Neide Gimenez, 66 anos, conseguiu lugar no assento preferencial (para idosos, gestantes, pessoas com crianças no colo e deficientes) na tarde da terça-feira 14, ao embarcar na estação Trianon-Masp só porque ainda não era hora do rush. "Já cansei de esperar de pé na frente da pessoa que não podia estar sentada nesse banco, com o vagão lotado, e o sujeito nem se mexer", diz ela. Para evitar histórias como essas, desde o começo do ano 15 mil adesivos e 2,6 mil cartazes foram colocados em locais estratégicos, como plataformas, bilheterias e escadas rolantes. Frases do tipo "Vai esperar o próximo trem? Então dê passagem para quem vai embarcar" foram criadas para sensibilizar os usuários.

As mensagens se repetem nos avisos sonoros. "Percebemos que despertar a atenção das pessoas para essas necessidades ao longo do percurso daria certo", diz Maria Beatriz Barbosa, chefe do Departamento de Relacionamento com o Cliente do Metrô.

A medida já surte efeitos. Uma pesquisa realizada em junho mostra que o grau de satisfação das pessoas melhorou. Em 2008, 52% dos usuários reclamavam do empurra- empurra na hora do embarque. Agora, 40% apresentam queixa semelhante. Mas aumentou um incômodo decorrente da tecnologia. Ouvir a música alta do vizinho no vagão importunou 7% dos passageiros no ano passado.

No estudo atual, 11% reclamaram da mesma situação. A empresa notou uma mudança positiva na postura dos próprios passageiros. "Como as ações estão funcionando, o usuário também está fiscalizando mais", afirma Maria Beatriz. "Ele chama o segurança quando alguém desrespeita as regras, dá opinião, está participativo."

Mas ainda há muito que mudar. Na CPTM o lixo jogado nos trilhos é um dos maiores problemas. No ano passado, a empresa encheu mais de 14 mil sacos com os detritos retirado das vias. No ano anterior foram dez mil sacos. A saída foi criar uma campanha ainda mais próxima dos passageiros, indo além de cartazes e avisos sonoros. De março a abril, atores vestidos de anjos distribuíram sacolinhas plásticas nas estações para que cada um guarde seu lixo até encontrar uma lixeira. A Prefeitura do Rio de Janeiro vê nas multas o único caminho para dar fim à sujeira nas ruas. Quem faz das vias um banheiro a céu aberto, urinando em qualquer lugar ou jogando lixo, será multado. Na verdade, o código de posturas do município já prevê esse tipo de punição, mas tem pouco poder na prática. O que será definido é como aplicar o choque de ordem e os valores das multas. Pode doer bastante no bolso do munícipe, como ocorre em outros países (leia quadro). E não se trata apenas da sujeira. Os maus hábitos, além de custar caro, podem trazer riscos. A Prefeitura de Salvador está gastando R$ 500 mil para recuperar 14 pilastras do viaduto Luiz Cabral corroídas pela acidez de urina. Oito passarelas da cidade foram reformadas devido a esse tipo de desgaste.