Economia & Negócios

O BB ganha força
Com a compra da Nossa Caixa, o Banco do Brasil dá um passo para voltar a ser o primeiro. E Serra pavimenta o caminho para 2010

Octávio Costa
 

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O governador de São Paulo, José Serra, entrou no Palácio do Planalto, na quartafeira 19, decidido a fechar com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil. As três autoridades chegaram a posar para uma foto no gabinete presidencial, mas o negócio não pôde ser concluído. Faltavam detalhes sobre o valor geral e as condições de pagamento. O negócio, porém, já estava mais do que maduro e os obstáculos foram contornados em menos de 24 horas. Na tarde da quinta-feira 20, o Banco do Brasil anunciou que acertou com o Estado de São Paulo a aquisição do controle acionário da Nossa Caixa, por R$ 5,386 bilhões. O montante será pago em 18 parcelas mensais no valor de R$ 299 milhões, corrigidas pela taxa Selic. Para comprar as ações dos acionistas minoritários, serão desembolsados mais R$ 2,173 bilhões. O valor total sobe para R$ 7,559 bilhões, o equivalente a 2,37 vezes o patrimônio líquido do banco paulista. "O preço se justifica pelas sinergias e pelo espaço para crescimento", afirmou o presidente do BB, Antônio Lima Neto.

O negócio foi bom para as duas partes. Ganham o Banco do Brasil e José Serra. O governo federal deu mais um passo para que o BB recupere o primeiro lugar no sistema bancário brasileiro, ou seja, o status bicentenário que perdeu após a fusão do Itaú com o Unibanco. "Nós queremos que o Banco do Brasil seja muito maior do que qualquer outro banco no País", afirmou o presidente Lula, na terça-feira. Com a compra da Nossa Caixa, o Planalto fica mais perto de seu objetivo. Ao incorporar o banco paulista, os ativos do Banco do Brasil passam de R$ 459 bilhões para R$ 512,4 bilhões. Ainda guardam distância dos R$ 575 bilhões do conglomerado Itaú Unibanco, mas o BB tem outras instituições na alça de mira.

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Para o governador Serra, o negócio também é altamente vantajoso. A Nossa Caixa, embora importante braço financeiro do Estado de São Paulo, era uma dor de cabeça para a administração estadual. Sua rentabilidade ficava bem abaixo da média do setor. Apesar de alguns comentários de que o preço pago pelo Banco do Brasil foi alto, diante das dificuldades que o segmento financeiro atravessa pelo mundo afora, Lima Neto garantiu que "a liderança não será buscada a qualquer preço". "Só entraremos em ativos que forem interessantes", disse.

i77007.jpgAlém do preço justo, Serra conseguiu derrubar um dos "detalhes" que mais dificultaram o negócio. O Banco do Brasil insistia em quitar a fatura com uma troca de ações, a exemplo do que fez ao comprar o Banco do Estado do Piauí, por R$ 81,7 milhões. Mas Serra bateu o pé quanto à forma de pagamento. Quis receber em dinheiro. A direção do BB ofereceu, então, um mix, parte em ações e parte cash, preocupada em manter o nível de liquidez da instituição. Ciente do desconforto que significa para o BB a perda do primeiro lugar entre os bancos brasileiros, Serra manteve-se irredutível. Acontece que o governador tucano tem projetos ambiciosos para seus dois últimos anos no Palácio dos Bandeirantes. Sem a Nossa Caixa, poderá contar com uma agência de fomento, que aguarda aprovação do Banco Central. Mas precisa de recursos para realizar seus planos. Ao fim e ao cabo, conseguiu o que queria. E, com as 18 parcelas milionárias, vai engordar uma espécie de PAC estadual. O governador informou que usará os R$ 5,3 bilhões prioritariamente na ampliação da malha de metrô e trens metropolitanos e na renovação de estradas de acesso a municípios. De cofre cheio, José Serra pavimenta seu caminho rumo à sucessão de Lula em 2010.


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