Eram 7h da terça-feira 14 quando um grupo de 70 agentes da Polícia e da Receita Federal começou a cumprir sete mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao Grupo Tânia Bulhões na capital paulista. Nas casas, escritórios, lojas e ateliês pertencentes à empresária do luxo Tânia Bulhões, fundadora do grupo, a polícia recolheu documentos, como notas fiscais, que comprovariam um esquema de subfaturamento de bens importados vendidos pela empresa no País (leia quadro) entre 2004 e 2006, além de R$ 1,5 milhão em cheques e R$ 600 mil em dinheiro. É mais uma ofensiva da polícia no segmento de alto luxo. As denúncias são semelhantes às existentes contra a Daslu – maior templo de luxo da América Latina – e que levaram à prisão a dona da loja, Eliana Tranchesi. Ninguém foi preso na operação da última terça-feira. E ainda que houvesse um mandado contra Tânia, ele não poderia ser cumprido. A empresária não estava no Brasil no dia da operação, batizada de Porto Europa. Enquanto a fechadura de seu apartamento na rua Bela Cintra, nos Jardins, era arrombada, Tânia se preparava para almoçar com o marido, Pedro Grendene, e amigos em Saint-Tropez, na Riviera Francesa. Segundo a Receita e a Polícia Federal, uma vez de volta ao Brasil Tânia será chamada para depor, mas não deve ser presa.

A França é um dos principais destinos da empresária mineira radicada em São Paulo desde 1989, que costuma fazer 15 viagens por ano ao Exterior. Além da Europa, ela viaja com frequência para países da Ásia, como China e Rússia. Em 30 dias o inquérito do caso será apresentado ao Ministério Público Federal, que pode oferecer denúncia contra o Grupo Tânia Bulhões, pedir mais investigações ou arquivar a diligência.

Tânia ficou famosa por vender mobiliário e perfumaria para membros da elite e famosos, como Hebe Camargo.

Quando vai a Paris a trabalho, Tânia costuma se hospedar no Hotel Costes, onde a diária não sai por menos de 205 euros (R$ 560). Se está a lazer com o marido, prefere o Georges V – um dos hotéis mais tradicionais do mundo – , que tem diárias a partir de mil euros (R$ 2,7 mil). Na capital francesa, ela se ocupa com visitas a antiquários e casas de leilão como a Christie’s, onde garimpa peças para vender na loja em São Paulo. Em incursões pelo interior francês, se dedica a uma paixão que virou negócio: a perfumaria. Na cidade de Grasse, na Provença, testa fragrâncias para sua crescente linha de perfumes. Até 2010 ela espera abrir 25 lojas neste segmento no Brasil. Tânia cursou arquitetura e belas artes e gostava de pintar quadros inspirados nas obras de Monet. Supersticiosa, tem o número nove como talismã desde criança.

Quando resolveu abrir a loja-sede do grupo na rua Colômbia, em São Paulo, escolheu a dedo a casa de número 270. "A soma de dois, sete e zero dá nove", explica.

Hoje, é dentro desse casarão que estão as joias mais reluzentes do Grupo Tânia Bulhões. Dois dias depois da operação da Receita Federal, o palacete em estilo normando de três mil metros quadrados funcionava normalmente. Estão em exposição 18 mil objetos, alguns acessíveis, como taças de vinho por R$ 60. Mas prevalecem os mais caros, como um conjunto de jantar de R$ 185 mil e um lustre de cristal de R$ 450 mil. No segundo andar da loja há um cisne empalhado à venda por R$ 19 mil. Boa parte dos objetos vendidos abusa do dourado e de materiais brilhantes, como os onipresentes cristais. Se comprovado o esquema de sonegação de impostos, a Receita Federal deve cobrar os encargos devidos, além de multa de até 225% sobre o valor sonegado.

No Brasil, é difícil cruzar com a empresária em festas e eventos sociais. "A Tânia é muito discreta", diz o consultor de etiqueta Fábio Arruda. "Ela é bem mineira, fala pouco, é simpática, educada e só vai aos eventos ligados ao seu trabalho." Distante da confusão em que sua marca está envolvida, Tânia alimenta a imagem de pessoa reservada sem dar declarações – nem por meio de comunicado oficial – sobre a operação. Amigos e colegas de trabalho de Tânia procurados por ISTOÉ também não falam do assunto. Com base na Operação Porto Europa, o Ministério Público pode levar a empresária a responder criminalmente por descaminho, importação fraudulenta e evasão de divisas.

O Grupo tânia bulhões em números

R$ 70 milhões
foi o faturamento do grupo em 2008

1,5 mil
clientes compram na Tânia Bulhões Home por mês

18 mil
produtos estão à venda nos três mil metros quadrados de loja

R$ 100 mil
é o valor do lustre que adorna a entrada da loja e que, por ser o xodó da proprietária, não está à venda

40%
das vendas da Tânia Bulhões Home são para decoradores e arquitetos