A colisão de três automóveis e um ônibus na tarde da segunda-feira 3 poderia ter se tornado um problema para os motoristas que passavam pela avenida Padre Leonel Franca, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Não houve tempo, no entanto, para que um grande congestionamento se formasse: em três minutos, a polícia e o caminhão reboque chegaram ao local e os veículos foram retirados. Se ocorresse quatro dias antes, a situação teria sido bem diferente. O socorro levaria ao menos 40 minutos para chegar e o engarrafamento seria a consequência inevitável. Essa agilidade no atendimento a emergências é um dos resultados do Centro de Operações da Prefeitura do Rio, que começou a funcionar no dia 31 de dezembro. Nesse lugar meio futurista, tudo o que acontece na cidade é monitorado em um telão de 80 metros quadrados, com imagens geradas por 136 câmeras (até o fim do ano serão 500) e com o suporte das informações fornecidas por 30 órgãos públicos municipais e concessionárias. Num gigantesco mapa gerado pelo Google, é possível identificar problemas e providenciar soluções no abastecimento de energia e gás, transportes públicos, alagamentos, entre outras situações cotidianas de uma cidade. Poucas vezes a surrada expressão Big Brother, criada pelo escritor inglês George Orwell (1903-1950), teve tão boa tradução. O Centro é um conglomerado de “olhos” bem abertos sobre a cidade do Rio de Janeiro.

 

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 O sistema de detecção de catástrofes naturais é considerado o mais moderno do mundo e foi instalado pela IBM em outras metrópoles, como Nova York (Estados Unidos) e Madri (Espanha). Na América Latina, só o Rio tem essa novidade. Ao projeto inicial da empresa americana, a equipe da prefeitura acrescentou recursos voltados para as necessidades específicas da cidade. A ideia principal foi reunir em um só ponto todos os dados do município em tempo real, transportados através de 300 mil metros de cabos de telecomunicação. O Centro de Operações será fundamental para o bom andamento da Copa de 2014 e, principalmente, da Olimpíada de 2016. Mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), não quis esperar tanto tempo e decidiu que a unidade estaria a pleno vapor desde já para prevenir as possíveis enchentes deste ano. “Não é apenas para grandes eventos”, afirma ele, que está de olho na melhoria do atendimento dos acontecimentos rotineiros do município. 
 
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 Na manhã da quarta-feira 5, a reportagem de ISTOÉ testemunhou a vantagem dos equipamentos no dia a dia de um cidadão comum. O automóvel de Emerson Lemos enguiçou no viaduto Perimetral. Fato simples e corriqueiro que, normalmente, costuma provocar estresse, problemas e engarrafamentos até que a solução apareça. Mas, graças ao Big Brother carioca, foram necessários apenas espantosos sete minutos para que um caminhão de reboque chegasse ao local e resolvesse a ocorrência. “É um alívio ter um atendimento tão rápido nesse local de acesso difícil”, elogiou Lemos. Nos próximos meses, a área de observação da unidade vai aumentar bastante. Além das 500 câmeras próprias e de imagens geradas nas estações de metrô, também os ônibus passarão a ter câmeras a serviço da vigília. Na última licitação de linhas de ônibus, constou a obrigatoriedade de todos os veículos terem equipamentos externos de vídeo – serão quase oito mil novos olhos eletrônicos circulando pela cidade e enviando informações. Haverá ainda uma câmera aérea, num miniavião não tripulado. 
É natural que se associe a patrulha eletrônica à questão de segurança que tanta afeta a vida dos cariocas. Mas o Centro de Operações não será usado diretamente no combate ao crime. Fará, entretanto, colaborações pontuais, através de um convênio da prefeitura com a Secretaria de Segurança Pública do Estado. “Nosso objetivo é aprimorar os serviços públicos, ajudar a cidade a funcionar melhor”, explica Sávio Franco, responsável pela coordenação da parafernália tecnológica e dos 400 operadores que se revezam em turnos de 70 pessoas. Em breve, com base nas informações que aparecerem nos 80 monitores de 46 polegadas, o centro vai enviar por celular a todos os cidadãos que se cadastrarem informações sobre enchentes ou situação do trânsito. É o carioca tendo mais controle sobre sua cidade.
 
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