O primeiro discurso, a primeira semana, a primeira crise, os primeiros 100 dias, o primeiro ano. Para uma gestão inédita, cada passo importa, cada movimento é escaneado em busca de um sentido oculto, da definição de um estilo. Será possível definir a gestão da presidente Dilma Rousseff a partir do que disse, fez ou deixou de fazer em seus atos iniciais no Planalto? Todos sabem que não, mas muitos se apressam em rotulá-la. Na ausência de parâmetros já conhecidos, a classe política trata de usar esse prólogo de governo para uma primeira queda de braço com a mandatária. Até que ponto ela cederá? Qual a sua disposição e suas armas para enfrentar velhas raposas habituadas ao “é dando que se recebe”? Nesse terreno não há – e jamais haverá – trégua para a estreante.

Pode-se avaliar Dilma pelo que se viu em seus primeiros dias no poder. Mas sobretudo pelo que menos se viu: a própria Dilma. Após a grande festa da posse, quase nenhuma aparição pública e muita ação de bastidores mostram uma presidente dedicada a impor um novo ritmo ao primeiro escalão do governo, que puxaria o resto da burocracia para uma rotina de eficiência e realizações. Assim, no primeiro momento, evita o desgaste direto e economiza energias políticas para ocasiões em que a queda de braço for ainda mais decisiva. A presidente mostra ter conhecimento de seus trunfos e usa a cautela como antídoto à ansiedade dos aliados. Diferencia-se do antecessor carismático evitando uma comparação desleal e ressaltando  sua característica mais conhecida, a de gerentona do governo. Suas medidas iniciais enfrentaram problemas urgentes, como o do câmbio e o dos aeroportos, revelando uma disposição de ir direto ao ponto, sem rodeios ou pirotecnia. Dilma mostra que, no carro da Presidência, não será uma mera passageira.