Assista à conversa da repórter Izadora Rodrigues com a representante de uma agência de cicloturismo e um cliente e saiba o que é necessário para realizar uma viagem de bicicleta já nas férias deste ano :

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Confira também o primeiro bloco da entrevista em vídeo com os cicloturistas Antônio Olinto e Rafaela Asprino, um casal que largou tudo para viver viajando de bicicleta :

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 No segundo bloco os cicloturistas Olinto e Rafaela contam o que levam na bagagem, dão dicas sobre como se preparar e revelam como compõem os guias com os quais bancam suas viagens :

 

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PARAÍSO
Búzios, no litoral carioca, é um exemplo de destino
ambientalmente correto
 

A primeira coisa a se ter em mente na hora de praticar o turismo sustentável é a comunhão com a natureza, certo? Errado. Não é preciso estar no meio do mato ou em uma praia paradisíaca para pensar em redução de impacto ambiental e preservação. “O turismo sustentável pode ser feito também na cidade”, aponta Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Aqualung, que atua aliando passeios e conscientização verde. É preciso não confundir esse novo pensamento com o ecoturismo, modalidade que tem ambientes preservados ou quase intocados pelo homem como destino.

O turismo sustentável inclui a receita clássica de não jogar lixo na praia, mas também está voltado para a preservação de culturas locais, algo que inclusive pode entrar em conflito com a proteção da natureza. Gabriel Ganme, dono da empresa de mergulho Azul Profundo, exemplifica a questão. “Se você vai para o Taiti, encontra a tradição da caça submarina, que para os habitantes é mais importante que a preservação da fauna marinha”, explica. A situação do país seria paradoxal não fosse o baixo impacto no ambiente. O mesmo não acontece nas Ilhas Galápagos, território que em 1835 serviu de laboratório para que Charles Darwin desenvolvesse a Teoria da Evolução das Espécies. Quase dois séculos depois, o paraíso intocado que fascinou o naturalista inglês está sendo tomado pela indústria pesqueira, em vez de receber investimentos no turismo sustentável. “Nesse caso, a pesca deixou de ser uma tradição local para se transformar em um negócio rentável”, explica Ganme.

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“O que você não consegue guardar na
memória ou captar nas fotos fica no local”

Fernando Avellar, engenheiro agrônomo

No caso do Brasil, tanto o empresário como Szpilman concordam que o País está longe de ser um exemplo de turismo sustentável. Quem já viajou para as nossas praias mais movimentadas bem sabe que latas e garrafas podem ser tão abundantes a ponto de elas parecerem parte da paisagem. Ganme só aponta uma exceção: aqueles que viajam para explorar o fundo do mar. “Se o turista brasileiro tivesse a preocupação que os mergulhadores têm, a situação estaria bem melhor. O mergulho é uma atividade contemplativa. Quando estamos debaixo d’água, a ideia é não tocar em nada e apenas apreciar”, compara. Foi por meio do esporte que o engenheiro agrônomo e fotógrafo Fernando Avellar adquiriu o hábito de se preocupar com a preservação da cultura e da natureza aonde quer que vá. “Em uma das viagens, passamos alguns dias em um barco. Para reduzir o lixo, cada um recebeu sua própria caneca, que era reutilizada. Gostei e acabei adotando a prática no meu local de trabalho”, relembra.

A preocupação com a sustentabilidade tem que estar na mente do viajante antes mesmo de sair de casa. Isso inclui também o meio de transporte escolhido. De acordo com o Greenpeace, uma viagem de avião é dez vezes mais prejudicial ao clima do que se o mesmo trajeto for percorrido a bordo de um trem, por exemplo. Segundo a organização, isso acontece porque o combustível é lançado diretamente nas camadas mais altas da atmosfera após a queima. Se o voo for inevitável, ainda é possível compensar o dano ambiental. Pelo menos é o que prometem algumas companhias aéreas, como a holandesa KLM, que oferece um programa de compensação da emissão de gás carbônico por meio do investimento em projetos de energia limpa. O serviço é opcional e a conta é paga pelo viajante.

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AMEAÇA
A indústria pesqueira e o turismo
sem regras (acima e à esquerda) estão
colocando a riqueza natural do arquipélago
de Galápagos em alto risco

Mas, se o destino é próximo, o trajeto pode ser feito até mesmo de bicicleta. A ideia já se tornou tão cotidiana para o escritor Antônio Olinto que virou até profissão. Ele já passou mais de um ano viajando pela Europa, África, Ásia, EUA e Brasil usando apenas a bicicleta como meio de transporte. Hoje ele ganha a vida escrevendo guias de cicloturismo. “Não precisa ser atleta. Tem que ter persistência e determinação, porque é algo que exige todo um preparo, desde a escolha da bicicleta até o equipamento de socorro”, afirma. Nessa modalidade de turismo, a viagem é o próprio caminho. “Em cima de uma bicicleta você conhece mais profundamente cada local pelo qual está passando. Até a passagem do tempo é diferente”, completa Olinto.

Mas nem sempre a atitude do turista é suficiente. Para que o turismo sustentável aconteça de fato, é preciso que o trabalho também seja feito pela administração local com investimentos em campanhas educativas e a promoção de práticas corretas. “De que adianta um visitante consciente separar o lixo reciclável, por exemplo, se na hora de recolher a prefeitura leva tudo para o mesmo aterro?”, questiona Szpilman.

O diretor do Instituto Aqualung cita Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, como um modelo a ser seguido. “A economia e as questões sociais e ambientais se desenvolveram. Se a cidade se torna um ponto turístico importante, mas não tem saneamento básico ou coleta de lixo adequada, não é possível considerá-la um ambiente sustentável”, afirma. A falta de infraestrutura também pode se tornar um obstáculo no caminho da preservação ambiental, uma vez que os dejetos podem começar a ser lançados em rios ou em áreas teoricamente protegidas.
Se ainda não dá para mudar totalmente os hábitos em casa ou no trabalho, o passeio por um novo local pode ser o incentivo que muitos precisam para começar a colocar a cartilha da sustentabilidade em prática. Afinal, se não fizermos isso, escolher um destino turístico ambientalmente correto pode ficar cada vez mais difícil.

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Colaborou Izadora Rodrigues