Há fotógrafos que cultuam a beleza das paisagens ou das curvas femininas. Outros optam por engrossar seu saldo bancário com imagens de publicidade. Mas existem os de faro jornalístico aguçado, cuja obra acaba se tornando uma espécie de patrimônio histórico. É o caso do baiano Evandro Teixeira, 68 anos, que completa 45 de atividade profissional cheio de razões para comemorar. Na segunda-feira 2 será inaugurada uma retrospectiva de suas melhores fotos no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, mesmo dia do lançamento do documentário Instantâneos da realidade – sobre a vida e a obra do repórter fotográfico –, que entra em cartaz nos cinemas do Rio e São Paulo na sexta-feira 6. Com depoimentos de personalidades como o compositor Chico Buarque e o fotógrafo Sebastião Salgado, o filme do cineasta Paulo Fontenele, diretor da produtora Canal Imaginário, traz em uma de suas abordagens o reencontro de Teixeira com os velhinhos que lutaram ao lado de Antônio Conselheiro e foram retratados no livro Canudos 100 anos, lançado em 1997.

Na mostra, destacam-se as fotos da tomada
do Forte Copacabana durante o regime militar, em 1964, e um registro especialíssimo, que se transformou em furo internacional, ocorrido à época do golpe militar no Chile, em 1973. Todos achavam que Pablo Neruda se encontrava preso. Mas Teixeira descobriu, por uma brasileira casada com um militar chileno, que o poeta estava à morte, internado num hospital em Santiago. Não deixaram que o fotografassem, porque Neruda era um desafeto do regime. “Liguei para o hospital às 22h30 e soube que Neruda tinha morrido. Corri para lá e vi seu corpo jogado no chão”, lembra Teixeira, emocionado. “Esse material é comentado até hoje. Uma produtora italiana quer usá-lo para fazer um documentário.” O fotógrafo ainda se destacou pela cobertura da Copa do Mundo de 1962, registrando a maestria de craques como Garrincha e Pelé.

Nascido em Iratu, interior da Bahia, na verdade ele queria ser escultor. Começou a aprender o ofício aos 16 anos com Nestor Rocha, tio do falecido diretor Glauber Rocha. Veio para o Rio de Janeiro em 1957, onde ingressou em O Jornal. “Saía para fotografar casamentos. O diretor-geral dizia que podia ser de pobre, de rico, mas preto não valia”, recorda. Certa vez, passou um dia rodando a cidade até encontrar um mulato de cabelo pixaim, que se casava com uma loura. O laboratorista transformou o mulato em branco, mas, quando a foto chegou à mesa do chefe, os cabelos do noivo o traíram e Teixeira acabou demitido. Tempos depois, seus melhores momentos começaram a acontecer a partir da contratação pelo Jornal do Brasil, há 42 anos. Foi lá que ele registrou uma histórica manifestação ocorrida em 1968, material que até o fim do ano deverá resultar no livro 68 destinos, Evandro Teixeira na passeata dos 100 mil, trazendo imagens e depoimentos dos manifestantes.


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