Celebrizado nos anos 1970 por reportagens escritas na então esfuziante revista americana Rolling Stone, o jornalista e escritor Hunter S. Thompson é o pai do chamado jornalismo “gonzo”, termo em inglês inventado por ele. À primeira vista, a modalidade em nada diferia do new journalism de Truman Capote, Tom Wolfe e Gay Talese, ou seja, muita informação, uma pitada de literatura e alguma ficção. A diferença é que o repórter calvo nascido no Kentucky, em 1937 – sempre algumas doses acima do normal e usando a piteira como leme –, tinha apego em se atracar com assuntos que geralmente estavam sob o nariz dos editores que se recusavam a cheirá-los. Hell’s Angels – medo e delírio sobre duas rodas (Conrad, 280 págs., R$ 32), seu livro de estréia lançado em 1966, surgiu de uma extensa reportagem publicada no ano anterior no jornal The Nation. Falava sobre a gangue de hirsutos motoqueiros que farreavam pela Califórnia. Durante um ano, Thompson conviveu com eles e fez um retrato para a eternidade.

O autor dá um show de informação. Para provar que os Angels nada mais eram que bodes expiatórios de uma geração frustrada, foi atrás de suas origens. Encontrou incidentes envolvendo motoqueiros alucinados já em 1947 e que originariam o filme O selvagem, estrelado por Marlon Brando em 1953. Dr. Gonzo também desmonta a farsa histérica e identifica a recorrência patológica do modo de vida ianque. Bebeu e farreou com os Hell’s Angels até cair em desgraça e ser selvagemente surrado por cinco deles. Hoje, Hunter Thompson escreve sobre esportes para o canal especializado ESPN.