O auditório da Trevisan Consultoria, em São Paulo, ficou pequeno na manhã da segunda-feira 26. A platéia era formada principalmente por jovens estudantes e completada por um punhado de empresários e acadêmicos. Muitos aguentaram em pé durante a hora e meia que durou a palestra de Antônio Delfim Netto sobre as perspectivas da economia brasileira. O tom é de otimismo. “Vamos crescer até 5% no ano que vem”, garante. A maioria dos atentos espectadores nem tinha nascido quando Delfim operou o milagre econômico durante a ditadura militar – entre 1967 e 1974, ele foi ministro da Fazenda; depois, até 1985, ocupou a embaixada brasileira na França e as pastas do Planejamento e da Agricultura.

Aos 76 anos, deputado federal em quinto mandato, ele conserva daquela época não apenas a silhueta rotunda e a verve ferina. Ele ainda é ouvido, lido, debatido, admirado e odiado com intensidade. Um prodígio para alguém que se formou economista “na idade média”, como ele próprio diz, e assistiu de dentro à derrocada do regime que o fez ter poderes absolutos sobre a economia brasileira durante quase uma década.

No horizonte de curto prazo de Delfim aparece um ciclo de crescimento e uma nação menos vulnerável aos humores da economia internacional. Tudo graças ao surto de comércio exterior que atravessamos. O ex-ministro acredita que o ritmo de exportações é intrinsecamente ligado à curva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). “Pode-se discutir se é a única causa, mas com certeza é a principal.”

Sacando suas planilhas, o professor mostra aos jovens indicadores de dois períodos distintos: 1963-1984, ou “quando dizem que tudo estava errado”, e 1984-2003, “quando dizem que tudo está certo”. No primeiro momento, justamente aquele em que Delfim mandou na economia, o País teve crescimento anual médio de 6,8%, contra 1,9% nos 20 anos seguintes. “Antigamente, o PIB brasileiro se duplicava a cada 25 anos. No ritmo atual, ele vai dobrar em 145 anos, embora eu não vá viver tanto para comprovar”, afirma.

A culpa, segundo ele, é dos cinco períodos distintos que o País viveu, a partir de 1984, com o valor do dólar predeterminado – um fator que inibe exportações. O último desses momentos se encerrou em janeiro de 1999, quando a desvalorização cambial pôs fim à primeira fase do Plano Real. “Nos libertamos do câmbio fixo com certo temor. O efeito, que estamos sentindo hoje, demorou a aparecer”, diz Delfim. Se não fossem defeitos estruturais, acredita, poderíamos já engatar um ritmo de 7% de crescimento ao ano.

Ao governo de Lula, só elogios – que jamais saem de sua boca sem uma gota de maldade. “Com tempo suficiente, até petista aprende”, diz, se referindo à conversão do partido (ou parte dele) a uma política econômica ortodoxa. É o Delfim de sempre.