A escolha de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central foi importante para a estratégia do governo Lula em seu começo. Se o presidente tomou posse embalado pela esperança popular, também o acompanhou o incômodo peso da desconfiança dos mercados. E a figura conservadora e ortodoxa de um ex-presidente de banco multinacional no leme da política monetária, apesar de atiçar a ira de muitos, aplacou as suspeitas daqueles que achavam que o novo governo era formado por um bando de esquerdistas anacrônicos, malucos e irresponsáveis.

Hoje, em meio ao seu segundo ano, o governo não mais sente o peso da desconfiança externa e da suspeita dos centros financeiros, mas leva nas costas outra carga, e esta, sim, insuspeita antes da posse: a da impunidade de seus funcionários. E também a do pouco cuidado com as suas contratações. É desses funcionários que deve vir o exemplo de probidade. Mais alto o posto na hierarquia, maior a responsabilidade e a obrigação de integridade.

A reportagem de ISTOÉ da última semana – ao mostrar que a CPI do Banestado detectou remessas de dinheiro ao Exterior sem declaração ao Fisco – levou Luiz Augusto Candiota, diretor de política monetária do Banco Central, a pedir demissão. Também revelou que Henrique Meirelles, o presidente do banco, não declarou imposto referente ao ano 2001. Em uma nota, ele justificou-se dizendo, entre outras coisas, que não morava aqui naquela época. Nesta edição, ISTOÉ mostra as contradições e a fragilidade de sua defesa. Renomados tributaristas ouvidos pela revista devolveriam sua declaração de renda, o que é inadmissível para alguém com o cargo que Meirelles ocupa. O governo não deve carregar nas costas mais este peso. Não pode se mostrar paralisado diante das suspeitas de ilícitos cometidos por seus funcionários. Ainda mais para quem se elegeu agarrado à bandeira da ética e da mudança de métodos. Por tudo isso, é bom que Meirelles saia.