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A coleção “Em Conserva” (Arte & Letras) reúne cinco títulos de importantes autores da literatura mundial em edições especiais que vêm acondicionadas em pequenas latas de belo design. Entre os lançamentos estão “As Aventuras do Grande Sidoine e do Pequeno Médéric”, de Émile Zola, “Nota Falsa”, de Liev Tolstoi, “Uma Cidade Flutuante”, de Jules Verne, e “A Viagem Preguiçosa de Dois Aprendizes Vadios”, de Charles Dickens. Todas as obras estavam fora de catálogo e os textos foram traduzidos diretamente do idioma original.

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Leia trechos dos livros da Coleção "Em Conserva" :

Nota Falsa

Fiódor Mikháilovitch Smokovnikov, presidente do Tesouro, homem de integridade incorruptível, e orgulhoso disso; sombriamente liberal, não apenas era um espírito livre, como odiava todas as manifestações da religiosidade, que ele considerava um resquício das superstições, retornou do Tesouro no pior humor. O Governador escreveu-lhe um papel extremamente estúpido, do qual poderia presumir-se a observação de que Fiódor Mikháilovitch agiu desonestamente. Fiódor Mikháilovitch irritou-se muito e imediatamente escreveu uma resposta viva e mordaz.

O Estranho caso do Dr. Jekyll e Sr. Hyde

O advogado, Sr. Utterson, era um homem de semblante pesado, nunca iluminado por um sorriso; frio, comedido e envergonhado ao falar; uma pessoa retrógrada em matéria de sentimentos. Magro, alto, obscuro, sombrio e, mesmo assim, um tanto cativante. Nos encontros com amigos, e quando o vinho lhe apetecia, uma luz de natureza essencialmente humana irradiava de seus olhos, mas nunca encontrava caminho até sua voz. Ela falava, porém, não apenas através dos símbolos silenciosos de sua face após o jantar, mas, mais ruidosa e frequentemente por suas atitudes na vida. Ele era rigoroso consigo mesmo; quando sozinho, bebia gim, para mortificar um paladar requintado que privilegiava o bom vinho e, embora apreciador de teatro, há vinte anos não se permitia assistir a um espetáculo. Era, todavia, dotado de uma reconhecida tolerância em relação aos outros, e algumas vezes se admirava, com uma ponta de inveja, da coragem envolvida nos atos de desmando que cometiam. Sendo, em qualquer circunstância, mais inclinado a ajudar do que a recriminar, costumava dizer, de forma singular: “sou partidário da heresia de Caim; deixo que meu irmão se dane a seu próprio modo.” Em relação a essa característica, estava quase sempre destinado a ser o último dos respeitáveis amigos e a última das boas influências na vida de homens arruinados. E para indivíduos assim, enquanto estivessem no recinto de seu escritório, ele jamais revelava uma sombra sequer de alteração de conduta.

A viagem preguiçosa de dois aprendizes vadios

No mês outonal de setembro de mil oitocentos e cinquenta e sete, em que se apresenta a data alegada, dois aprendizes vadios, exaustos pelo verão longo e quente, e pelo trabalho longo e quente que ele trouxe consigo, fugiram de seu empregador. Eles tinham um compromisso com uma dama digníssima (chamada Literatura), de honra e prestígio notórios, mas que, há de ser dito, não é tão estimada na Cidade quanto poderia ser. Isso é ainda mais extraordinário, já que não há nada contra a respeitável dama por aqueles cantos, muito pelo contrário; sua família havia prestado serviços célebres a muitos cidadãos famosos de Londres. Pode ser suficiente citar Sir William Walworth, Lord Mayor no reinado de Ricardo II, à época da insurreição de Wat Tyler, e Sir Richard Whittington: dos quais este último, homem distinto e magistrado, estava indubitavelmente em dívida com a família de tal dama devido ao dom de seu celebrado gato. Também há fortes razões para supor que eles tocaram os sinos de Highgate para ele com suas próprias mãos.

Uma cidade flutuante

No dia 18 de março de 1867, cheguei a Liverpool. O Great Eastern partiria alguns dias depois para Nova York e eu vinha adquirir passagem para embarcar. Viagem de amador, nada de mais. A travessia do Atlântico naquele barco gigantesco era uma tentação. Aproveitando a ocasião, eu contava visitar a América do Norte, mas isto estava em segundo lugar. Primeiro, o Great Eastern. O país celebrado por Cooper, depois. Esse barco é a obra-prima da construção naval. É mais do que um navio, é uma cidade flutuante, um pedaço de condado destacado do solo inglês que, depois de atravessar o mar, vai se soldar ao continente americano. Eu imaginava aquela massa enorme, levada sobre as ondas, a luta contra os ventos – que ela desafia, sua audácia diante do mar impotente, sua indiferença às ondas, sua estabilidade no meio desse elemento que sacode como chalupas os Warriors e os Solferinos. Mas a minha imaginação se detivera aquém. Vi todas essas coisas durante a travessia, e muitas outras que não estão mais no domínio marítimo. Se o Great Eastern não é apenas uma máquina náutica, se é um microcosmo e se carrega um mundo consigo, um observador não se espantará de ali encontrar, como num teatro maior, todos os instintos, todos os ridículos, todas as paixões dos homens.

As aventuras do grande Sidoine e do pequeno Médéric

A cem passos de distância, o grande Sidoine parecia-se um pouco com um álamo, excetuando-se o fato de ele ser mais alto e seus contornos mais largos. A cinquenta, podia-se distinguir perfeitamente seus grandes e salientes olhos azuis, seu sorriso satisfeito e seus enormes punhos, que ele balançava de um jeito tímido e embaraçado. A vinte e cinco, declararíamos sem hesitação que se tratava de uma criança de coração, forte como um exército, mas burro como uma porta.