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PINCEL
No vídeo “475 Volver”, trator desenha na terra

Como todos de sua geração, Cinthia Marcelle, 34 anos, cresceu ouvindo que o Brasil era o país do futuro. Mas, ao viver a realidade de um país em que menos de 2% do orçamento é dedicado à cultura, a artista construiu seu trabalho e sua carreira na raça, como outros estudantes de arte ou autodidatas, sem o apoio de instituições fortes. Se o Brasil está ou não no caminho para o prometido futuro, essa é outra história. Mas é fato que, na opinião de um grupo de estelares agentes da arte contemporânea internacional, Cinthia Marcelle encabeça a geração do futuro das artes plásticas mundiais. Em dezembro, ela recebeu o Future Generation Art Prize 2010, a primeira edição de um prêmio bienal concedido pela Victor Pinchuk Foundation, fundada em 2006 pelo bilionário e colecionador de arte ucraniano Victor Pinchuk.

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LÁPIS
Em “Fonte 193”, caminhão pipa risca o espaço

Mas receber o incrível montante de US$ 100 mil das mãos de um júri composto por curadores de bienais e documentas – em um palco enfeitado por altos calibres, como Damien Hirst, Jeff Koons, Andreas Gursky e Takashi Murakami – não faz de Cinthia uma Cinderela das artes plásticas. Escolhida entre 20 finalistas selecionados a partir de seis mil inscritos de 125 países, a artista brasileira afirma que pretende continuar trabalhando de maneira experimental, respeitando o próprio tempo. “Um prêmio como esse me dará condições de desenvolver projetos engavetados, sem correr o risco de ficar sem um tostão na carteira, como muitas vezes já me aconteceu”, diz ela. “Mas preciso entender o meu tempo de criação diante de tanta responsabilidade e não ser muito atropelada pelas demandas.”

A preocupação é digna, já que, além de trabalhar com galerias do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, em novembro de 2011 ela faz sua primeira individual em Paris, na Bendana-Pinel Art Contemporain. “Descobri o trabalho de Cinthia através da trilogia de vídeos agora premiada em Kiev. É marcante em seu trabalho a reflexão sobre ações aparentemente simples”, declara o galerista Juan Carlos Bendana-Pinel.

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ORQUESTRA
Uma banda é coreografada em “Cruzada”

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Nos vídeos “Fonte 193” (2007), “475 Volver” (2009) e “Cruzada” (2010), a artista dá forma a uma pesquisa que integra os campos da performance, da escultura, do desenho e do cinema. Nesses três trabalhos, situações aparentemente banais são convertidas em ações performáticas. Dessa forma, os movimentos de um trator, um carro-pipa e uma banda de músicos funcionam como “pincéis” que produzem traçados, desenhos e coreografias sobre terrenos naturais.

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ESTRELA
Cinthia Marcelle: “Trabalha e confia”

Como seus veículos fazem sobre a terra, Cinthia deixa suas marcas sobre a cena artística. O prêmio em Kiev coroa uma sequência de premiações recentes que incluem o Gasworks, em Londres; Rumos Cinema e Vídeo, do Itaú Cultural, em São Paulo; e o Pipa, no Rio de Janeiro. “Isso tudo mostra que o trabalho está circulando. Venho produzindo no meu canto há quase uma década e de um tempo para cá comecei a ter um retorno mais imediato. Como diz a bandeira do Estado do Espírito Santo: Trabalha e confia”, sugere.
 


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