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O Brasil chega a 2011 com outra cara, fruto da consolidação de várias mudanças positivas que foram se encadeando sobretudo nas duas últimas décadas.

A sociedade civil está mais fortalecida, a Constituição de 88 promoveu avanços importantes na relação do cidadão com o Estado, na garantia das liberdades individuais e nos direitos coletivos. Há maior equilíbrio econômico e melhoria em diversos indicadores sociais. Milhões de pessoas saíram da condição de pobreza. A moeda se tornou estável e a economia, menos vulnerável. O País acumulou experiências concretas em inúmeros projetos locais e regionais participativos e de valorização da diversidade socioambiental.

Esses avanços, porém, não foram suficientes para superar problemas históricos – como a desigualdade, a corrupção ou a degradação ambiental. Nas avaliações de qualidade de ensino, entre 65 países o Brasil aparece em 53º em leitura e ciências e 57º em matemática. Não há como adiar a revolução da educação de qualidade para todos, formadora de cidadãos conscientes, solidários e preparados. A escola tem que ser o lugar onde as crianças e os jovens queiram estar, alinhada com a linguagem e as oportunidades geradas pelas mudanças em curso no mundo.

O que já alcançamos não é suficiente para nos preparar para uma sociedade sustentável. A falta de investimento estratégico em educação, inovação tecnológica e na conservação dos recursos naturais compromete o nosso desenvolvimento a longo prazo.

Não podemos, em nome dos acertos, ser complacentes com erros e omissões. Precisamos ser capazes de identificar os novos desafios que emergem da realidade global, marcada por uma crise profunda, que é econômica, ambiental e também de cultura política.

O primeiro desafio é o político. Se na questão econômica e social avançamos, na política temos um atraso secular. Em nome da governabilidade, atropelam-se valores éticos fundamentais para uma sociedade mais justa e desenvolvida. Aceitamos com naturalidade as barganhas e o loteamento de cargos públicos como se fossem uma parte do nosso corpo social que está gravemente enferma e não tem cura.

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Esse freio impede a melhoria da gestão pública e desperdiça a energia criativa da sociedade, na medida em que obstrui os canais de participação.

Como disse certa vez o sociólogo Eduardo Viveiro de Castro, não podemos continuar a serrar o galho em que estamos sentados por incapacidade de reinventar a política e de colocar a sustentabilidade (com todas as suas implicações) no centro das decisões estratégicas do País. O Brasil abriga parte significativa da biodiversidade e da água doce existentes no planeta, terras cultiváveis que nos permitem grande produtividade, recursos minerais estratégicos, diversidade étnico-cultural e uma rica variedade de formações naturais cujo papel é fundamental no equilíbrio climático continental e global. Esses recursos serão cada vez mais fundamentais, mas é preciso ter sabedoria e coragem para usá-los da maneira correta.

Ainda é possível substituir o crescimento econômico imediatista pelo desenvolvimento sustentável. Temos inteligência, sensibilidade, conhecimentos científicos, saberes tradicionais, tecnologias e capacidade de mobilização da sociedade. Está passando da hora de acordar para o enorme potencial dessa riqueza.