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REVERÊNCIA
Convidados para a cerimônia de diplomação
fazem fila para cumprimentar a presidente Dilma Rousseff
 

Em meio à reservada recepção oferecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dona Marisa Letícia à presidente eleita, Dilma Rousseff, na sexta-feira 17, uma dupla de típicas baianas roubou a cena no salão nobre do Palácio Itamaraty. Com suas tradicionais saias rodadas e turbantes brancos, irromperam no jardim criado pelo paisagista Roberto Burle Marx, na hora dos cumprimentos. Sob os olhares atentos do seleto grupo de convidados, elas entregaram a Dilma uma caixinha de joias. Todos imaginavam que seria uma figa de prata para dar sorte, mas a própria homenageada não escondeu a surpresa. O colar de prata trazia outro amuleto, bem mais extravagante. As baianas explicaram que se tratava de um chocalho de cascavel, que, na crendice popular, espanta o mau-olhado. Supersticiosa “na medida certa”, Dilma sorriu, experimentou o colar junto ao peito e pediu aos assessores que guardassem o talismã. Depois, deixou-se fotografar com as duas baianas. Afinal, o presidente da República está sempre sujeito às mandingas de adversários e até mesmo de aliados políticos. A composição do futuro Ministério (leia quadro à pág. 40) já serviu de exemplo do grau de dificuldade que Dilma terá pela frente. Quem sabe a proteção do chocalho de cascavel se fará necessária ao longo de seu mandato.

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Ao contrário do clima sisudo da cerimônia de diplomação no TSE, mais técnica e litúrgica, a estreia de Dilma Rousseff na corte de Brasília, oficialmente como presidente eleita, foi marcada pela descontração. Enquanto garçons circulavam oferecendo os mais variados canapés, vinhos tintos e brancos, espumante e uísque de 12 anos Johnny Walker, os cerca de 200 convidados, entre atuais e futuros ministros, parlamentares e diplomatas, eram recebidos pelo presidente Lula e a primeira-dama, dona Marisa, na entrada do salão nobre do Itamaraty. O jardim suspenso, reservado às grandes recepções, é adornado por obras de Lasar Segall, Alfredo Ceschiatti, Victor Brecheret e Maria Martins. Após saudar os anfitriões, fazia-se uma fila ao lado para cumprimentar Dilma no salão Brasília, no qual se destaca um mural de Burle Marx. Elegante, ela trajava um tubinho de xantungue azul-royal, com um casaco de manga três-quartos sobreposto, que lhe afinava a silhueta. Mais magra do que nas últimas semanas de campanha e bastante sorridente, Dilma chegou por volta das 19h e mostrou que estava bem à vontade. Quando alguns dos convidados lhe estendiam a mão para o respeitoso cumprimento, ganhavam um amistoso abraço da presidente eleita. Não era dia de guardar distância protocolar.

O coquetel também não era a ocasião adequada para debates mais complexos. Mas, nos rápidos diálogos com parlamentares, a presidente ainda teve tempo de discorrer sobre política. Um dos primeiros da fila, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), trocou impressões sobre a troca no comando da Casa, marcada para o início de fevereiro. “Como estão as tratativas para a eleição na Câmara?”, perguntou Dilma. “Estamos conversando muito com todos. Para mim, o mais importante é a autonomia do Legislativo”, respondeu Maia. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o vice, Michel Temer, acompanhado da esposa, também conseguiram espaço para conversas mais longas com Lula e Dilma. Futuro ministro da Previdência, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) hesitou em comparecer à recepção. No TSE, anunciou que iria direto para o aeroporto, mas arrependeu-se, chegou atrasado ao coquetel e ouviu somente um “bom trabalho” da presidente eleita. “Ela é a mais assediada de todos”, disse Alves aos jornalistas na saída, numa tentativa de se redimir.
Outro convidado que se atrapalhou foi o deputado Pedro Novais (PMDB-MA), futuro ministro do Turismo. Novais mostrou que terá de se familiarizar não apenas com a futura pasta, mas também com os ambientes solenes da capital federal. “Onde fica a escada, onde fica a escada?”, perguntava. Só encontrou depois de dez minutos, ajudado pelo cerimonial. O Palácio do Itamaraty, para o devido conhecimento de Novais, é palco de grandes eventos há mais de 40 anos. A primeira recepção oficial ocorreu em 14 de março de 1967, ano de sua inauguração, no governo Castelo Branco. A tradição de gala será mantida no próximo dia 1º de janeiro, após a cerimônia de posse, quando a presidente Dilma Rousseff oferecerá um coquetel a chefes de Estado, autoridades e missões estrangeiras, além de convidados nacionais.

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Entre os mais animados da noite de pré-estreia de Dilma presidente destacaram-se os ministros do primeiro escalão do governo Lula que conseguiram carimbar o passaporte para a nova administração. Entre eles, Edison Lobão (Minas e Energia), Fernando Haddad (Educação), Nelson Jobim (Defesa), Gilberto Carvalho (chefe de gabinete da Presidência e futuro secretário-geral) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais e próximo ministro da Saúde). Também não escondiam seu entusiasmo os integrantes do staff de Dilma na Casa Civil e na campanha eleitoral, como Giles Azevedo (futuro chefe de gabinete da Presidência), Anderson Dornelles, Tereza Campello (confirmada esta semana no Ministério de Desenvolvimento Social), a jornalista Helena Chagas (futura ministra da Comunicação Social) e o novo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O marqueteiro João Santana e a consultora de imagem Olga Curado juntaram-se à festa. Até mesmo os ministros não reconduzidos marcaram presença no coquetel. Fizeram questão de cumprimentar a presidente eleita, entre outros, Franklin Martins (Comunicação Social), Luis Dulci (Secretaria-Geral), Márcia Lopes (Desenvolvimento Social) e Henrique Meirelles (Banco Central). Este último foi alvo de um gesto de cortesia do sucessor Alexandre Tombini. Assim que Meirelles desembarcou no Itamaraty, Tombini desceu do salão nobre para buscá-lo no mezanino.

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Longe do burburinho, num outro lado do salão, o futuro ministro da Casa Civil Antônio Palocci conversava ao pé do ouvido com o mineiro Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, agora escalado por Dilma para o Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior. Sempre discreto, Palocci preferia acenar de longe para os convidados menos íntimos que ensaiavam uma aproximação. “Querem saber do governo? Falem com o Cardozo (José Eduardo)”, esquivava-se ele. Apesar do recato, Palocci foi muito requisitado. Quando Dilma deixou o local, por volta das 20h30, depois de posar para fotos com a equipe palaciana, o ex-ministro da Fazenda tornou-se o centro das atenções. Não é segredo para ninguém que Palocci, na Casa Civil, será um dos homens mais fortes do novo governo. O fim do evento se aproximou, enquanto os últimos convidados se serviam do prato quente oferecido no cardápio: um risoto de codorna. Colunistas sociais do passado, que frequentaram as concorridas festas do Itamaraty, certamente diriam que Dilma Rousseff passou com louvor no seu primeiro teste nos salões do poder. A estrela da noite brilhou.


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