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AÇÃO
Governo decretou estado de sítio e enviou 500
agentes para combater os mexicanos na região
  

 

O poder paralelo que faz do México um dos paraísos do narcotráfico mundial, movimentando cerca de US$ 25 bilhões ao ano, está buscando terreno e reforço em países vizinhos. Há cerca de um ano, traficantes da temida facção mexicana Los Zetas se estabeleceram ao norte da Guatemala, na província (Estado) de Alta Verapaz. Lá, os paramilitares a serviço do cartel expulsaram os camponeses e subtraíram as suas terras para plantar coca e papoula, a planta de onde é extraído o ópio, matéria-prima da heroína. Outras áreas foram utilizadas para a construção de pistas de aterrissagem de aviões com cocaína proveniente da Colômbia para ser transportada até os Estados Unidos. A vulnerabilidade da fronteira, somada ao abandono do poder público e à pobreza da região, explica a formação de um ambiente propício para a atuação e o fortalecimento dos traficantes. O silêncio, no entanto, foi quebrado e denúncias podem fazer com que a situação comece a mudar.

No início do mês, o WikiLeaks vazou documentos secretos de diplomatas americanos relatando a situação “dramática” da fronteira que lançaram luz sobre a questão. Segundo trecho dos documentos, a polícia guatemalteca é “ineficaz ou corrupta e a população, abandonada secularmente pelo Estado, decidiu aceitar a proteção de grupos criminosos”. Com a denúncia, o governo da Guatemala reagiu. No domingo 19, o presidente Álvaro Colom decretou estado de sítio em Alta Verapaz para recuperar o controle da região. Com a vigência do decreto foram suspensos direitos constitucionais da população, como a livre organização e protestos. O governo pode, ainda, deter suspeitos de alterar a ordem pública sem mandados. Após o anúncio de Colom, 500 agentes da força de segurança foram enviados à região e até a terça-feira 21 mais de 20 ações haviam sido realizadas e quatro traficantes presos. A polícia também passou a ser investigada, suspeita de facilitar a ação de Los Zetas.

A efetividade das ações, no entanto, ainda gera dúvidas para especialistas no narcotráfico. “A medida demonstra uma preocupação das autoridades, mas deveria ter sido tomada há muitos meses”, avalia o analista político guatemalteco Álvaro Pop. Manfredo Marroquín, da ONG Acción Ciudadana critica a falta de um trabalho de inteligência. “O estado de sítio sem inteligência e estratégia integral de combate não serve para nada”, criticou. “Estamos correndo o risco de que tudo isso termine em um show de jogos artificiais.”

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