Assista ao trailer:

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PROTEÇÃO
Russell Crowe foge com Ty Simpkins:
truques de bandidos aprendidos no YouTube

Pais costumam ter os ouvidos sensíveis às críticas dos filhos. No caso de astros de Hollywood com rebentos na idade de ir ao cinema, a desaprovação de seus filmes pelos garotos pode ter efeito semelhante a uma resenha negativa na imprensa. É o caso do ator neozelandês Russell Crowe, que estreia na sexta-feira 24 o seu novo trabalho, “72 Horas”. Aos 46 anos, ele é pai de dois meninos, mas eles não gostam de vê-lo em cena. Preferem Harrison Ford, hábito adquirido desde que foram apresentados à saga do arqueólogo Indiana Jones. Ao assistirem ao filme de aventura “Robin Wood”, trabalho anterior de Crowe, os garotos não tiveram paciência. Perguntavam o tempo todo ao pai quando ele iria montar no cavalo e sair em disparada. E como isso não aconteceu nos primeiros cinco minutos da história, quem começou a correr pela sala de cinema foram eles. O movimentado drama “72 Horas” não pretende ser uma resposta à impaciência dos meninos, já que trata de temas adultos. Mas, de certa forma, ilustra o impasse que Crowe vive como ator: se não consegue viver um herói de ação, pelo menos tenta convencer como um superpai nessa nova produção.

No filme de Paul Haggis (de “Crash – No Limite”), o ator interpreta John Brennan, um pacato chefe de família que poderia metaforicamente ser qualificado de super-herói. A transformação do personagem, de dedicado professor de literatura a homem de ação (no sentido cinematográfico) se dá por uma decisão cara às produções hollywoodianas: a vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Sua mulher havia sido condenada à prisão por um crime que, tudo indica, não cometera. E como Brennan esgotou todas as tentativas legais para o caso, decide virar um superpai para o filho desamparado e libertar a companheira das grades. Ele não tem poderes mágicos nem armas especiais: aprende todos os truques que precisa na internet ou por meio de uma “consultoria” de bandidos experientes, caso do habitué em fugas de prisão interpretado pelo ator Liam Neeson.

“Meu filho tem certeza de que Harrison Ford é melhor do que eu 
nos filmes de ação. Ele deve estar certo, mas é chato ouvir isso”

Russell Crowe, ator

É sabido que no auge do código Hays, legislação que regulou o que podia e o que não podia ser mostrado nos filmes americanos até meados dos anos 1960, não era permitido exibir detalhadamente métodos criminosos nas histórias. Temia-se o didatismo das cenas. Mas quem assiste “72 Horas” sai sabendo como arrombar uma porta usando uma chave “viciada” ou arrombar um carro utilizando uma bolinha de tênis furada – o personagem aprende isso tudo vendo gravações postadas no YouTube. Ele faz uso também de passaportes falsos, adultera exames médicos de sua mulher e se envolve com traficantes para conseguir o dinheiro necessário para os seus planos de fuga. No caso, para um país que o governo dos EUA nem sequer suspeitaria que um cidadão americano poria os pés: a Venezuela de Hugo Chávez. Com um corpanzil cada vez mais volumoso, Russell Crowe deve ter queimado bastante caloria nas cenas em que corre da polícia com a mulher pelas ruas e pelo metrô de Pittsburgh, cidade onde tudo acontece. Isso torna a trama mais crível – e tensa, claro.

Ao atuar como um superpai, Crowe equilibra sequências de ação com momentos mais reflexivos. Não que ele deteste os filmes de aventura. “O Gladiador” e “Robin Hood” exibem um bom pano de fundo histórico, mas não deixam de ser estruturados em função das cenas agitadas e espetaculares. Crowe, contudo, prefere se afastar dos tipos movidos apenas pela testosterona. O papel de Wolverine, do filme “X-Men”, por exemplo, era para ser dele. Mas o astro recusou o convite para viver o herói dos quadrinhos que acabou nas mãos de Hugh Jackman e o alçou definitivamente ao estrelato. “O negócio do cinema hoje está voltado para os filmes-evento, em sua maioria originados das graphic novels. Essa não é a minha praia”, disse no lançamento de “72 Horas” nos EUA. Por um erro de marketing, a produção estreou junto com a primeira parte de “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, que abocanhou todo o público. Mesmo assim, seu filme não foi mal na bilheteria e se posicionou entre os dez mais vistos nos EUA. Seus filhos, claro, preferiram assistir à despedida do bruxinho. Nem os superpais são perfeitos.

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