Tentar visualizar um personagem ou uma cena do livro favorito é hábito comum a diversos leitores. Para o canadense Ted Nasmith, é muito mais do que um costume. Artista especializado em desenho arquitetônico, ele converteu o que era pura imaginação em um trabalho sério e reconhecido em um mundo bastante particular: o dos admiradores do escritor inglês John Ronald Reuel – ou J.R.R. – Tolkien, autor
de O senhor dos anéis. É um feito respeitável. A saga, que completou 50 anos de lançamento na semana passada, é uma das obras mais reverenciadas do planeta. No Brasil, a paixão não é diferente. Por isso, Nasmith, um dos ilustradores oficiais da obra do inglês, foi recebido como pop star, com direito a distribuição de autógrafos, nas palestras que apresentou recentemente no País, a convite da UniFMU, centro universitário de São Paulo.

Nasmith, 49 anos, ilustrou livros e sete calendários da Tolkien Society (entidade dedicada ao escritor). Foi convidado a integrar a equipe da versão cinematográfica em 1999, porém recusou a oferta. Alguns de seus trabalhos, entretanto, serviram de base para os filmes. Para deleite dos admiradores, o artista apresentou parte deles no Brasil. “Sempre quis agregar interpretações visuais aos livros de Tolkien. A reação positiva de tantos fãs me faz pensar que contribuo realmente com minha arte”, avalia. Nasmith desenha cenas das obras de Tolkien desde que era um colegial, quando se converteu em fã do inglês. Um dia, em 1972, enviou para o ídolo uma pintura em que aparecia o personagem Bilbo Bolseiro. Recebeu uma carta assinada pelo autor. “Ele foi cordial, mas escreveu que Bilbo parecia criança”, conta. Em 1986, entrou para o time de ilustradores da Tolkien Society.

O canadense fez palestras em São Paulo e Brasília, onde contou com a participação de Ives Gandra da Silva Martins Filho, ministro do Tribunal Superior do Trabalho. Ambos se tornaram amigos desde que o magistrado o procurou para publicar ilustrações no livro O mundo de O senhor dos anéis (Ed. Madras), lançado em 2002 e com a primeira edição esgotada. Trata-se de um guia que orienta iniciantes e agrada aos fãs mais exigentes, com direito a imagens de cenas como a morte de Boromir (um personagem humano), de autoria de Nasmith.

Ives Filho virou especialista em Tolkien quase por acaso. Em 1980, por sugestão de um amigo, ele leu O senhor dos anéis. Gostou tanto que devorou a edição portuguesa lançada em 1990 e se dedicou aos outros títulos de Tolkien. Numa ocasião, percebeu que começava a se perder nesse mundo. “Reli todos os livros e fiz um resumo de cada um”, lembra. Foi um trabalho tão completo que
sugeriram ao ministro publicar o material. “Esse livro fez mais sucesso do que os jurídicos que escrevi”, brinca. O que comprova o poder do universo tolkiano. Um poder que nasceu em 1937, com a publicação de O hobbit. A história conquistou tantos leitores, que se encomendou um novo livro a Tolkien. Treze anos depois, ele apresentou O senhor dos anéis, saga contada em dois livros. Por considerá-la longa, os editores pediram que fosse reduzida. Foram quatro anos de negociações até que se entendessem. A aventura virou trilogia. Em 29 de julho de 1954, saiu o primeiro livro, A sociedade do anel, seguido de As duas torres (em novembro) e O retorno do rei (em outubro de 1955).


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias