Comportamento

Profissão perigo
A violência no futebol que nasceu na arquibancada e faz vítimas ao redor dos estádios agora atinge os técnicos

Rodrigo Cardoso

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Um dos mais vitoriosos treinadores de futebol do Brasil (20 títulos), Vanderlei Luxemburgo é a mais nova vítima da violência das torcidas de futebol. Na semana passada, ele entrou com uma representação de lesão corporal contra a torcida organizada Mancha Alviverde, do Palmeiras, clube que dirige. Dias antes, havia sido cercado por palmeirenses no aeroporto de Congonhas e teve o cotovelo direito fraturado na confusão. "Foi covardia, tocaia, tudo que eles sabem fazer", disse o técnico, que passou a ter segurança policial após identificar os agressores.
Émerson Leão, outro ex-treinador da Seleção Brasileira, também já teve de se esquivar de emboscadas – foram duas este ano – armadas por torcedores uniformizados do Santos. Em maio, ao se desligar do clube, teve o carro apedrejado. Há dois meses, quando retornou para receber salários atrasados, foi cercado. Acuado, recebeu socos e teve pertences roubados. "Fui vítima de um ato de vandalismo. Jogaram uma barra de ferro em mim", indigna-se Leão.
Tão evidente quanto a violência de torcedores ter descido da arquibancada e atingido o treinador é o fato de que nada de profundo, integrado e cientificamente fundamentado tenha sido feito até agora. "Lamentavelmente, no Brasil, a gente só tranca a porta depois de o cadeado ser arrombado", diz Mau ricio Murad, coor denador do núcleo de sociologia do esporte da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e autor do estudo A violência e as mortes do torcedor de futebol no Brasil. Segundo a pesquisa, nunca se matou tanto em estádio de futebol.
De 1997 até hoje houve 42 mortes – média de 3,8 por ano. Nos últimos cinco anos, a média subiu para 5,6 e nos dois últimos anos chegou a sete mortes por ano. Outro dado alarmante: do total de mortos, apenas 22% tinham ligação com torcidas uniformizadas – nas quais, em geral, nasce o problema. "É importante dizer que, apesar de grave, isso é obra da minoria e exatamente por isso temos de considerar que o problema tem jeito", diz o sociólogo. Paulo Castilho, procurador do MP que investiga a violência sofrida por Luxemburgo, defende a criação de leis específicas para reger o comportamento de torcedores de futebol. Murad, porém, é contra a extinção das torcidas organizadas, como ocorreu em 1995, quando a Justiça pôs fim à Mancha Verde (antiga organizada do Palmeiras): "A questão é recolocar essas instituições nos seus caminhos originais, pela ação da lei, da Justiça, pelo controle social. Elas fazem parte do espetáculo."

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