No País onde nem sempre crime resulta em castigo, a solução de um quádruplo homicídio de funcionários do Ministério do Trabalho em Unaí, noroeste de Minas Gerais, virou um marco policial. Seis meses de investigação e uma eficiente parceria da Polícia Federal com a Polícia Civil de Minas permitiram o indiciamento de um dos maiores plantadores de feijão do mundo, o fazendeiro Norberto Mânica, 46 anos, como o mandante de uma execução terrível, cujas investigações rumavam para o engavetamento. Recordista de multas, cerca de R$ 2 milhões por irregularidades trabalhistas, Mânica, segundo a polícia, decidiu eliminar os fiscais que o incomodavam e para isso montou uma quadrilha com outros produtores da região. O encarregado de contratar os matadores teria sido o dono de uma empresa de cereais, Hugo Alves Pimenta, que tinha uma dívida de R$ 180 mil com o fazendeiro. Capataz de Pimenta, José Alberto Cardoso, o Zezinho, escolheu quatro pistoleiros – Francisco Elder Pinheiro, o Chico Pinheiro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha e William Gomes de Miranda – para executar o serviço. O prêmio pela morte dos fiscais seria de R$ 45 mil. Todos, menos Norberto Mânica, estão presos e confessaram o crime.

Estudioso da criminalidade brasileira e de sua indissociável impunidade, o professor mineiro Cláudio Beato comemorou o epílogo do caso. “Um peixe grande na rede é algo raro”, frisou Beato, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG. “Esse trabalho é um exemplo”, afirmou, sorridente, em Brasília, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que fez
questão de anunciar pessoalmente a ressurreição do caso. Foi a primeira vez que fiscais do Ministério do Trabalho foram assassinados. Os crimes ocorreram em 28 de janeiro deste ano, quando os auditores Nelson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves e o motorista Aílton Pereira de Oliveira inspecionavam fazendas suspeitas de usar mão-de-obra escrava na região de Unaí e foram executados com nove tiros à queima-roupa. O governo criou uma força-tarefa para apurar os assassinatos e uma comissão especial do Congresso passou a acompanhar seus passos. O exame de 187 ligações telefônicas feitas dias antes e depois do crime revelou conversas entre mandantes e matadores, como diálogos entre Mânica e Pimenta no dia 28, alguns acontecidos momentos antes das mortes. Os assassinos avisaram os mandantes sobre a execução às 9h15. Os dados foram cruzados com informações de hospedagens em hotéis. Outros crimes aguardam a mesma sorte, como lembra a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que na quarta-feira 28 de julho divulgou nota pedindo o mesmo empenho da PF na apuração das mortes de líderes
sindicais por outros latifundiários.