Corpos estranhos/ Memorial da América Latina, SP / até 26/7 MAC-USP , SP / de 6/8 a 4/10

Poucas palavras têm tanto uso e aplicação quanto performance. Se na língua portuguesa performance é o índice que avalia o desempenho – de um atleta, um profissional, uma máquina, um instrumento, um ator -, o termo também consta do glossário da história da arte desde a década de 1960, referindo-se a manifestações que têm o corpo como principal forma de expressão. De lá para cá, a performance já se desdobrou em "categorias" como o happening, a aktion, o ritual, a destruction art, o acionismo, a body art, a street art, o skate art, etc., etc. Com curadoria de Claudia Fazzolari, a mostra "Corpos Estranhos", em cartaz em São Paulo até outubro, reúne três artistas com diferentes utilizações do termo.

A vulnerabilidade do corpo e a crítica social são os fatores que aproximam os trabalhos da guatemalteca Regina José Galindo, da espanhola Pilar Albarracín e da brasileira Laura Lima. Regina Galindo testa os limites do corpo como forma de denúncia social: a instalação sonora "(279) Golpes" emite o som de açoites que a artista empreendeu contra o próprio corpo: um para cada mulher assassinada num período de seis meses, na Guatemala. No vídeo "Reconocimiento de un Cuerpo", a artista permanece nua e anestesiada sob um lençol, à mercê dos visitantes da exposição. Com a performance, faz uma menção aos desaparecidos nas ditaduras militares na América Latina.

Se Regina Galindo é a protagonista de seu trabalho, Laura Lima precisa do envolvimento do público para que sua obra se realize plenamente. A artista desenvolve esculturas "vestíveis" pelo público, mas, dessa vez, seu trabalho "Nômades" é uma belíssima coleção de máscaras penduradas na parede, que funcionam mais como pinturas do que como roupas. Mesmo que não fique evidente à primeira vista, a tortura e a história política da América Latina também são subjacentes às máscaras de Laura Lima, na medida em que elas apresentam formatos estranhos e ameaçadores, que desafiam o corpo.

Os clichês sobre a mulher espanhola, a mulher latina e a mulher árabe são o objeto da crítica de Pilar Albarracín. "Não trabalho com a dor corporal, mas com uma dor psíquica, os problemas relacionados com a imigração ilegal e a dificuldade de exportação de uma cultura a outro contexto. Me interessa, por exemplo, a forma como a cultura árabe é exportada para a Europa", diz ela. Estereótipos ibéricos como a dança flamenca e o presunto Pata Negra estão entre seus ícones favoritos.