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ARRASTÃO
Pesca industrial na China, maior
consumidor mundial de pescado

As espécies marinhas sofreram um novo golpe em sua agonizante jornada contra a extinção. Na última reunião do Conselho de Ministérios da Pesca da União Europeia foi determinado que as 27 nações-membros podem continuar a praticar a técnica conhecida como arrasto, contrariando as expectativas de grupos ambientalistas. Ela consiste em puxar, de barco, uma grande rede em profundidades abaixo dos 200 metros, varrendo o fundo do mar e carregando não só peixes como espécies de menor valor comercial que depois são jogadas, sem vida, de volta ao mar. Especialistas estimam que algumas semanas dessa prática são suficientes para destruir ecossistemas que levaram milhares de anos para se formar.

“Para capturar uma ou duas espécies comerciais, as embarcações de arrasto puxam grandes redes armadas com pratos metálicos e pesadas roldanas pelo leito marinho, revirando o solo e pulverizando tudo pelo caminho”, diz um relatório da Deep Sea Conservation Coalition, uma aliança de mais de 70 grupos científicos e conservacionistas que luta por cotas para a pesca em todo o planeta. Um estudo publicado em setembro concluiu que a técnica é mais prejudicial à natureza do que todas as outras atividades humanas combinadas.
O grande culpado, mais uma vez, é o apetite de uma população humana cada vez maior. Nos últimos 50 anos, a retirada desses animais dos oceanos aumentou em mais de quatro vezes. O aperfeiçoamento tecnológico de frotas de pesqueiros e a exploração de áreas antes preservadas foram cruciais para que mais de 77,9 milhões de toneladas de peixes e frutos do mar passassem a ser extraídos dos mares todos os anos.

O aumento do consumo de grandes predadores como atum e salmão fez com que os países deixassem de restringir a pesca às suas zonas econômicas exclusivas, faixa de água que se estende por até 370 quilômetros do litoral. A China, maior consumidora do planeta, por exemplo, retira de seus mares 9,9 milhões de toneladas de pescado por ano, mas consome 13,6 milhões de toneladas – inclusive espécies da costa brasileira. No chamado mar aberto, no qual não há leis que regulamentem a atividade, a pesca aumentou quase dez vezes em relação à década de 1950. O salto foi de 1,6 milhão de toneladas para 13 milhões de toneladas.

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LEILÃO
Um atum pode ser arrematado por milhares
de dólares nos mercados de Tóquio

A retirada de espécies do topo da cadeia alimentar é o maior dano causado aos ecossistemas. O estudo SeafoodPrint, divulgado recentemente, afirma que a pesca de um quilo de atum tem impacto 100 vezes maior do que a de um quilo de sardinha. A justificativa dos pesquisadores é que, todos os dias, um espécime do predador precisa comer o equivalente ao próprio peso em seres menores para se manter vivo. Um atum de 450 quilos come até 15 mil peixes menores por ano. Logo, a morte de um animal desses significa uma perda muito maior do que pode parecer.

Segundo Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace, parte da solução é a criação de mais unidades de conversação. No Brasil, por exemplo, mero 0,4% da costa é protegido por lei. “Nas poucas áreas existentes, faltam recursos como barcos para fiscalização e gente especializada”, diz.

A abertura dos mares brasileiros para embarcações internacionais, em julho do ano que vem, pode agravar o problema por aqui. A medida do Ministério da Pesca pretende fazer com que o País alcance as cotas de extração autorizadas pela Comissão Internacional para a Conservação dos Atuns e Afins. A justificativa para a medida é o temor de uma possível redução dessas cotas, caso o País não atinja os limites impostos atualmente. “Graças a isso já temos embarcações espanholas e chinesas na nossa costa”, afirma Leandra. Ainda há muito o que fazer.

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