"O mundo passará a visitar o cosmo com pacotes turísticos que serão fechados como se fôssemos conhecer outros países." A frase é do americano Richard Branson, proprietário da Virgin Galactic, empresa que desenvolve espaçonaves exclusivamente destinadas ao turismo espacial. O seu entusiasmo se justifica: ele comemorou na semana passada a decisão das autoridades do setor da aviação civil dos EUA de dar sinal verde à construção do primeiro porto espacial comercial do planeta. Após dois anos de estudo sobre o impacto ambiental que uma obra dessa natureza acarretaria, a Administração de Aviação Federal (FAA) cedeu a licença. Começa assim a ser construído o Spaceport America, sob a única, mas inegociável exigência, de que os engenheiros envolvidos no projeto "ergam esse sonho da humanidade sobre os alicerces da sustentabilidade, criando uma arquitetura altamente tecnológica, porém verde".

Essa determinação, feita com certa dose de romantismo mas nem por isso pouco enfática, partiu do próprio diretor do Spaceport, o engenheiro Steven Landeene. Segundo ele, a autorização do governo é um passo necessário para se criar um porto espacial comercial totalmente operacional, uma vez que o anseio das pessoas em se lançar nessa jornada é um fato consumado: "Para que elas usem espaçonaves da mesma forma que utilizam aviões é preciso vencer a burocracia. O turismo espacial, até então, era visto como algo distante. Agora está perto porque em 2010 o Spaceport estará operando."

Entre as montanhas Organ, no deserto do Novo México, centenas de máquinas já começaram a remover a terra. Nem bem iniciaram o seu funcionamento, no entanto, 300 reservas para os voos foram confirmadas e pelo menos 85 mil pessoas estão na fila de espera. Um detalhe importante: existe passagem que custa US$ 200 mil (seis minutos fora da órbita da Terra) e há aquelas que saem por astronômicos US$ 20 milhões (uma semana na Estação Espacial Internacional). "Apesar da crise financeira que atinge todo o mundo, os milionários estão em busca de novas experiências de vida. Eles não encaram uma viagem dessas como artigo de luxo", disse à ISTOE Carolina Perez, dona de uma agência em São Paulo que já possui entre seus clientes pessoas interessadas em fazer o tour da gravidade zero. Enquanto o porto não fica pronto, uma base militar no deserto de Mojave, na Califórnia, funciona provisoriamente como plataforma – afinal, quem despende tanto dinheiro merece mesmo esperar até o ano 2010? Esse é o caso – e o sonho – do empresário e exartista Guy Laliberte, fundador do Cirque du Soleil. Vinte milhões de dólares é a quantia que ele desembolsou para conhecer a Estação Espacial Internacional, a cerca de 350 quilômetros da órbita da Terra. Isso se dará em setembro. Laliberte está contente?

 

É claro que sim, mas isso não quer dizer que esteja satisfeito. Ou seja: ele já planeja a sua próxima excursão: "Com a inauguração do Spaceport America ficará mais fácil viajar com frequência para fora do planeta."

O que o empresário quer dizer, em palavras mais diretas, é que a base militar de Mojave pertence à Nasa e ela não está disposta a dividir o tempo todo o palco de lançamento de seus foguetes (em missões científicas) com amadores passeios turísticos. O investimento para se erguer o Spaceport, segundo o seu diretor, passará de US$ 500 milhões. Risco de prejuízo? Difícil. As 300 reservas feitas já montaram um caixa de US$ 60 milhões e ainda há a interminável fila de interessados. Esse aeroporto espacial ocupará uma área de 31 quilômetros quadrados e seu conceito foi desenvolvido por arquitetos americanos e ingleses que previram a utilização de painéis solares para climatização e geração de energia. Na parte exterior, um hangar de nove mil metros quadrados abrigará os veículos White Knight 2 e Space Ship 2, da Virgin Galactic. "Que tal sair em férias e olhar a Terra estando fora dela?", pergunta – e provoca – o empresário Branson.

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"É um sonho que agora se tornará realidade. Que tal sair em férias e olhar a Terra estando fora dela?"
Richard Branson, proprietário da Virgin Galactic


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