Um anúncio nos EUA procurava recentemente "brasileiras ou mulheres de outras nacionalidades que cantem em português para integrar uma banda de jazz". Esse é o indicador de uma tendência no mercado fonográfico americano: cada vez mais cantoras de lá estão se arriscando no idioma português em regravações de clássicos da bossa nova. A grande maioria delas tem sotaque carregado, pronuncia às vezes palavras irreconhecíveis e não acerta fonemas nasalados. Há, no entanto, surpresas agradáveis. É o caso da americana Esperanza Spalding, que acaba de lançar no Brasil o seu primeiro álbum. Ela tem 23 anos, toca contra-baixo e passeia à vontade pela língua portuguesa nas canções. Das 12 músicas do CD, duas são brasileiras: Ponta de areia, de Milton Nascimento, e Samba em prelúdio, de Baden Powell e Vinicius de Morais.

Também familiarizada com a nossa música e fã da bossa nova, a americana Jane Monheit cresceu ouvindo a sua mãe tocar composições de Tom Jobim. Com seis discos lançados, ela acumula um bom número de regravações em português, das quais três compõem o seu trabalho mais recente, o álbum Surrender. Em Rio de maio, de Ivan Lins, Jane é acompanhada pelo compositor. Gravou também duas músicas de Tom Jobim, compositor ao qual, sem exceção, as cantoras americanas de jazz recorrem quando querem gravar canções brasileiras – quem sofre na pronúncia são as letras dos parceiros de Tom. Em Só tinha de ser com você e Caminhos cruzados, ela canta, por exemplo, como se fosse uma fadista com sotaque carioca.

O namoro entre o jazz e a bossa nova existe desde a década de 1960 e registra gravações antológicas, como o disco Ella abraça Jobim, no qual a diva Ella Fitzgerald cantou no original a música Felicidade. Mais recentemente, bandas de rock começaram a flertar com a produção brasileira inspiradas em outro grande momento da nossa música: o tropicalismo. Entre os grupos e cantores que não se intimidaram nessa aventura estão o americano Devendra Benhardt, fã de Caetano Veloso, e a banda inglesa Belle & Sebastian, influenciada pelos Mutantes. Admiradora de Milton Nascimento, a cantora islandesa Björk pensou em gravar Travessia, mas só pensou – acreditou quando lhe disseram que era impossível entender qualquer palavra que ela pronunciou quando cantou em português essa música em alguns de seus shows. Quem também cogitou de gravar em português foi a jazzista canadense Diana Krall. Teve bom senso e desistiu da empreitada: "Não vou arriscar, é melhor aprender primeiro o idioma e depois tentar gravar."