Se alguém vir um dirigente do PT falando rápido ao celular para encurtar a conversa, não estranhe. Desde o início do ano, o partido resolveu limitar em R$ 500 a cota mensal de telefone de seus principais comandantes.

Esse é apenas um dos esforços que o PT vem fazendo para equacionar uma dívida que, em maio, era de R$ 39,2 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas já pode estar mais perto dos R$ 40 milhões. O valor é disparado o maior entre os partidos políticos.

O principal adversário do PT nas urnas, o PSDB, deve quase cinco vezes menos: R$ 9,4 milhões. A pouco mais de um ano das eleições presidenciais, a notícia não é nada boa para um partido que pretende eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa disputa que se anuncia acirradíssima, e trabalha para construir palanques nos Estados a fim de ampliar a bancada no Congresso.

Parte da cúpula do PT evita falar abertamente sobre o assunto, mas está preocupada. Para piorar, este ano o partido terá gastos adicionais com o processo de eleição interna para escolha dos novos dirigentes. No início de 2010, haverá a comemoração de seus 30 anos e a realização de seu congresso. "A dívida é uma preocupação para a futura direção do partido. Houve corte de despesas, mas não foi suficiente", admite o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), secretário- geral do partido e pré-candidato à presidência do PT.

Com expressivo aumento da receita proveniente do fundo partidário, da contribuição de filiados e de empresas, a expectativa era de que o PT hoje já conseguisse arrecadar mais do que gasta. Mas não é o que ocorre. "Nossa meta é terminar 2009 com uma situação de normalidade financeira. Infelizmente, hoje nós gastamos mais do que arrecadamos", lamenta o tesoureiro petista Paulo Ferreira. As despesas anuais são consideradas elevadas: somam R$ 93,9 milhões. As eleições municipais contribuíram para aprofundar o rombo.

Mesmo com débitos das campanhas de 2004 e 2006, o PT gastou em 2008 R$ 30,5 milhões para ajudar candidatos com seminários, confecção de material publicitário para os diretórios e contratação de produtora de vídeo. Só os adesivos com o slogan "Lula é PT" distribuídos para candidatos em todo o País custaram R$ 4,5 milhões. Na tentativa de aliviar o impacto sobre os combalidos cofres petistas, Ferreira já tomou outras medidas consideradas impopulares, que incluem a limitação de gastos com viagens e a redução do número de eventos partidários.

"O pessoal aqui gosta muito de passagem, hotel, comida e papel. Temos que colocar um freio", dedura Ferreira. Nessa linha, o partido também decidiu transferir sua sede de São Paulo para Brasília, como forma de reduzir as viagens, o que desagradou a funcionários antigos. Outra iniciativa "antipática" foi implementada em 2007, quando o PT fechou o cerco sobre os filiados ocupantes de cargos públicos que não estavam em dia com o pagamento do dízimo. De acordo com o estatuto petista, os funcionários comissionados filiados ao partido devem pagar de 2% (aqueles que ganham até seis salários mínimos) até 10% (aqueles com salário superior a 20 mínimos) dos vencimentos mensais.

A cobrança deu certo e a arrecadação com as contribuições aumentou em quase R$ 400 mil por mês. Mas o TSE jogou uma ducha de água fria ao proibir a cobrança a ocupantes de cargos de confiança que entraram no governo com a chegada da legenda ao poder. Com isso, as contribuições sofreram um baque de cerca de R$ 250 mil mensais. O valor do passivo petista é atribuído, por integrantes da legenda, a um período de descontrole no ápice do escândalo do mensalão.

Ou seja, quando o tesoureiro era Delúbio Soares. Em 2005, a dívida bateu os R$ 50 milhões. Baixou e voltou a subir nos últimos dois anos. Cerca de 70% da dívida provém das eleições municipais de 2004. Curiosamente, o maior credor hoje do PT é a Coteminas, gigante da indústria têxtil, fundada pelo vicepresidente da República, José Alencar, e hoje dirigida pelo seu filho Josué Gomes da Silva. O partido deve à empresa R$ 10,2 milhões.

A dívida, que vem sendo paga de forma parcelada nos últimos cinco anos, foi contraída nas eleições de 2004 para a confecção de 2,7 milhões de camisetas. O PT ainda precisa pagar cerca de R$ 5 milhões da campanha à reeleição de Lula em 2006 e os empréstimos contraídos com os bancos Rural e BMG em 2003, que tiveram o publicitário mineiro Marcos Valério como um dos avalistas. Um dos pivôs do escândalo do mensalão, Valério cobra do PT na Justiça uma dívida não reconhecida pelo partido. Em 2008, o partido pagou a ele R$ 400 mil em dez parcelas. Mas ele não ficou satisfeito. Cobra a bagatela de R$ 110 milhões. O processo está no Superior Tribunal de Justiça.

Atualmente, uma das fontes de receita mais importantes do PT são as doações de pessoas jurídicas, que em 2008 somaram R$ 60 milhões. "Não fossem as doações das empresas, não conseguiríamos pagar parte da dívida mês a mês", diz o tesoureiro. Em relação à lei eleitoral, o PT não tem nenhum problema, pois, partido político no Brasil pode dever quanto quiser que nunca vai à falência. O problema é político: iniciar o ano da eleição presidencial com o orçamento no vermelho. Por isso, o PT cor re contra o tempo.