Do gabinete do presidente Lula é possível avistar o Centro de Ensino Fundamental 1. É uma escola na Vila Planalto, a 500 metros do Palácio onde despacha o presidente. Mesmo construída há três décadas, a escola é considerada “provisória”. Tudo é feito de placas de concreto pré-moldado e, quando chove, várias salas alagam. Mas há um espaço tratado com carinho especial, que ganhou isolamento no teto. É o laboratório de informática, onde 16 computadores são disputados por 1,1 mil alunos, muitos deles filhos de moradores de favelas próximas e até de acampados da reforma agrária. O laboratório foi preparado para receber nas próximas semanas 15 pontos de banda larga gratuitos. Eles irão substituir um sistema wireless (sem fio) que volta e meia falha. “A antena é velha e a gente já ficou até três dias sem internet”, diz o coordenador de informática da escola, Leonardo Fernandes. “Com a banda larga, nós poderemos falar em inclusão digital”, diz o professor, confiante. Até 2010, o Programa Banda Larga na Escola vai instalar a nova tecnologia em 56,7 mil escolas públicas do País, atendendo cerca de 40 milhões de alunos. Uma revolução digital.

Mais de três mil escolas públicas no País já ganharam a banda larga, desde que o programa foi implantado, em maio. “As operadoras estão superando as metas e com isso nós vamos mudar o mapa da inclusão digital do Brasil de forma mais rápida”, diz o secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação, Carlos Eduardo Bieschowsky. “O ritmo é tão rápido que algumas operadoras de telefonia têm dificuldades até para achar mão-de-obra.” O projeto do governo é colocar banda larga gratuita em 22,6 mil escolas até dezembro, quase a metade do objetivo oficial para 2010. Segundo o MEC, outras 15 mil escolas rurais também estão sendo incluídas no mundo digital, com antenas GSAC, via satélite. O projeto inclui cursos de 180 horas-aula de informática para 100 mil professores para que eles estejam capacitados para orientar os alunos. Outros 30 mil docentes, com menos noção de internet, estudarão 360 horas.

Para professores e alunos, a banda larga na escola representa um avanço formidável. “Ela nos ajudou a melhorar o rendimento dos alunos, que passaram a ter acesso mais rápido a informações que os professores sozinhos não têm condição de passar”, diz o coordenador de informática do Centro de Ensino Médio Ave Branca, Ricardo Adriano Rocha. “Desde que a pesquisa seja bem orientada, abre as portas para o mundo e o aluno fica com um conhecimento mais universal.” O Ave Branca, de Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, ganhou o acesso rápido à internet há 30 dias. Os alunos comemoram: “Não tenho computador com banda larga em casa e isso melhora muito nosso rendimento”, diz Suianne Lorena, 15 anos, do segundo ano do ensino médio. “As aulas ficam mais dinâmicas e fáceis de entender.” Para sua colega Eveny Soares, 15 anos, que também não tem a nova ferramenta digital, “a aula de informática é a mais divertida de todas”. O cuidado dos alunos é não aceitar como verdade tudo que encontram na internet, quando pesquisam nos provedores de busca. “Na maioria das vezes nós checamos as informações”, diz Elaine Souza, 16 anos.

O curioso é que o Banda Larga na Escola não era para existir, até a interferência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. No início do ano, o ministro da Educação, Fernando Haddad, foi ao gabinete da ministra e lembrou da legislação que prevê às operadoras com concessão pública a instalação, como contrapartida, de nove mil postos de serviço de telecomunicação (PST) no País. O PST é uma sala com telefone, fax e computador, que atende a comunidade local conforme a demanda. Dilma, então, mandou chamar todos os representantes das operadoras e negociou pessoalmente uma troca. As operadoras ficariam desobrigadas de instalar os postos, e se comprometeriam a levar o acesso rápido à internet para todas as escolas públicas do País. “Não queremos tecnologia ultrapassada”, disse Dilma, na reunião. “Nós queremos banda larga.” A ministra trocou os nove mil PST por 15 pontos de acesso rápido à rede em cada uma das 56,7 mil escolas públicas, o que representa 850 mil pontos de atendimento. E assim foi dado mais um passo importante para incluir os alunos da escola pública no século XXI.