Tradição das noites de domingo, o noticiário de esportes na televisão sempre provocou bocejos entre as mulheres. Era o momento de levantar do sofá ou trocar de canal – se o marido não estivesse na sala – diante da repetitiva seqüência de gols ao som do irritante (e falso) barulho de torcida ao fundo. O comentarista da Rede Globo Tadeu Schmidt, 33 anos, apresentador do quadro esportivo do Fantástico, conseguiu a façanha de dar uma cara nova a esse noticiário e torná-lo interessante até para o público feminino. Com bom humor, ele revolucionou ao trocar as intermináveis discussões sobre falta, impedimento ou erro do juiz por uma narrativa irreverente e criativa do jogo, em que, às vezes, têm mais destaque as imagens do torcedor chorando na arquibancada, a chuteira verde-limão do atacante ou trapalhadas dos jogadores.

"Quase todo dia, alguma mulher se aproxima e diz que passou a assistir ao bloco de esportes pela forma com que eu conto as histórias. É o elogio mais gratificante que pode existir", diz o jornalista, que procura ser didático numa linguagem simples e fugir do futebolês. "Eu sempre escrevo pensando nas mulheres e me pergunto: ‘Será que a minha mãe entenderia isso?’", explica. Sob a batuta de Tadeu, a partida vira um filme que o telespectador acompanha atentamente.

Um dos pontos altos da atração é o quadro "Bola Cheia e Bola Murcha", uma idéia do próprio apresentador, que exibe vídeos de gente comum na pelada do fim de semana. O autor dos melhores lances é eleito o bola cheia. O pior leva o troféu bola murcha. A idéia emplacou e a produção do Fantástico registra recorde de e-mails elogiando o quadro. "O Tadeu explora outros formatos na abordagem do futebol brasileiro e dá uma grande contribuição ao noticiário de esportes", afirma Alberto Helena Júnior, um dos mais conceituados comentaristas do País.

O esporte está no sangue dos Schmidt. Seu pai, Oswaldo, praticava salto em altura, jogava vôlei e se casou com uma jogadora. O irmão mais velho, Oscar Schmidt, 50 anos, se consagrou como o mais famoso jogador de basquete do Brasil. O segundo, Felipe, 45, o mais fanático, jogou basquete e vôlei de praia, paixão que transmitiu para os filhos. Bruno, o mais velho, foi campeão mundial na categoria sub-21 de vôlei de praia e está entre os melhores do Brasil.

Neste ambiente, Tadeu despertou cedo para esta vocação da família. Em Brasília, cidade onde viveu de bebê até os 25 anos, criou uma espécie de jogos olímpicos de rua e estabeleceu as regras da competição. Quem jogasse uma pedra bem grande na maior distância ganhava a modalidade "lançamento de peso". Quem pulasse mais alto o barbante amarrado no poste levava o troféu "salto em altura". O vencedor da natação deveria ser o mais rápido, não em 100, mas nos 30 metros da piscina da casa de um dos moleques. Ele logo se apaixonou pelo vôlei e chegou a integrar, aos 17 anos, a seleção brasileira infanto-juvenil, mas foi cortado do grupo. "Foi a maior decepção da minha vida. Depois do corte, desisti de levá-lo a sério. Não devia ter desistido", diz ele. "O meu arrependimento só não é maior porque encontrei outra atividade que me faz incrivelmente feliz."

Ter um irmão ídolo nacional não foi fácil para Tadeu, que durante muitos anos escondeu o parentesco com Oscar, embora o adorasse. "Eu não dizia a ninguém que éramos irmãos, nem mesmo nas situações mais simples. Acho que era uma insegurança, uma forma de dizer que as minhas conquistas eram por meus próprios méritos, não por influência dele", revela. Apesar de não ter emplacado como esportista, Tadeu diz nunca ter sofrido lenenhum tipo de cobrança ou comparação com o irmão. "A maior cobrança sempre foi a que eu fazia a mim mesmo. Ter um parâmetro como Oscar é desproporcional a qualquer ser humano", diz.

Se no passado Tadeu era "o irmão do Oscar", a situação se inverteu. "Ele sempre foi o meu irmão-filho. Hoje, é engraçado como as pessoas já me vêem como o ‘irmão do Tadeu’", diz Oscar, ao comentar o sucesso do caçula da família no Fantástico. O exjogador, que é comentarista na Globo e faz palestras em escolas de todo o País, conta que constata na prática o sucesso do irmão nas peladas nos fins de semana. "Nos jogos, só se fala em ‘bola cheia e bola murcha’. É impressionante como o Tadeu consegue ser engraçado sem ser escrachado. Desde criança ele é assim. O humor é uma característica da nossa família", vibra o irmão.

Apesar de ser apaixonado por esportes, Tadeu prefere as boas histórias a ir ao estádio gritar e xingar o juiz. "Já cheguei a torcer contra o meu time para que a reportagem ficasse mais interessante", confessa. Fora dos estúdios, três mulheres roubam a cena da sua vida. A esposa, Ana Cristina, e as duas filhas, Valentina, seis anos, e Laura, quatro. "Elas são tudo para mim. Quando viajei para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2006, e apareci numa reportagem do Jornal Nacional, a Laura me procurou atrás da tevê e correu para a porta, pensando que eu ia chegar em casa. Ficar longe delas é a pior coisa do mundo", diz ele, que agora tem pela frente o desafio de cobrir a Olimpíada.