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PROTESTO
Palestinos erguem bandeira em
manifestação na Jerusalém Oriental

Faltando menos de um mês para o fim de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou um de seus atos diplomáticos mais polêmicos. Por decisão de Lula, o Brasil reconheceu o Estado palestino com o tamanho que ele tinha antes da Guerra dos Seis Dias, de 1967. Ao aceitar a delimitação anterior das fronteiras, o Brasil passou a identificar como território palestino não só a Faixa de Gaza, mas todas as áreas ocupadas na Cisjordânia, inclusive a disputada Jerusalém Oriental. A iniciativa, que irritou Israel, ecoou na América Latina: na segunda-feira 6, a Argentina fez o mesmo. O Itamaraty havia comunicado a decisão brasileira na sexta-feira 3, atendendo a um pedido do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, numa carta enviada ao presidente Lula em 24 de novembro. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, houve apenas uma ação de “valor simbólico para fortalecer um processo pacífico para a questão do Oriente Médio”. Não foi o que o mundo inteiro entendeu.

Diplomatas israelenses classificaram a decisão brasileira de “desleal”. Israel, que considera Jerusalém sua capital única e indivisível, tratou de lembrar a condição de forte parceira comercial que mantém com o Brasil, para onde destina 80% de suas exportações ao Mercosul. “Não sei por que o presidente Lula decidiu reconhecer o Estado palestino no último mês de seu mandato. Acredito que essa decisão não vai ajudar de nenhuma maneira uma política brasileira de apoio ao processo de paz no Oriente Médio. Com essa decisão, ficou claro que o Brasil está do lado dos palestinos, não de Israel,” disse à Istoé Giora Becher, embaixador de Israel no Brasil. Raphael Israeli, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, endossa o coro.“Acho que este é mais um dos grandes erros de Lula antes de deixar o cargo, semelhante aos que cometeu ao apoiar Chávez e Ahmadinejad,” disse, referindo-se aos presidentes da Venezuela e do Irã.
Amorim, no entanto, aposta no contrário. “O reconhecimento do Estado da Palestina é a melhor maneira de contribuir neste momento para o processo de paz, que está em estancamento”, sustentou o chanceler brasileiro. E ele acredita que isso não afetará as relações bilaterais. “Muitos outros países, que mantêm relações intensas com Israel, como a Índia e a Rússia, também reconhecem a Palestina. Então, na realidade, é uma mera atualização da posição brasileira”, completou o diplomata.

“O reconhecimento do Estado da Palestina é a melhor maneira de contribuir
neste momento para o processo de paz, que está em estancamento”
Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores

Na sequência da decisão brasileira e acreditando nos mesmos preceitos, a Argentina se manifestou. “O governo argentino compartilha com seus sócios do Mercosul, Brasil e Uruguai, que chegou o momento de reconhecer a Palestina como um Estado livre e independente,” declarou a jornalistas o chefe da diplomacia argentina, Héctor Timerman.
Para ele, com essa decisão, a Argentina mostra “seu profundo interesse num avanço do processo de negociação que conduza ao estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Oriente Médio.” A citação sobre o Uruguai é um adiantamento sobre o que deve acontecer em 2011. Após o anúncio de Brasil e Argentina, o vice-ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Roberto Con­de, declarou que o país já comunicou sua intenção à Autoridade Palestina, cujo presidente visitou o Uruguai duas vezes este ano. “Estamos trabalhando com a possibilidade de abrir representação diplomática no Estado palestino, certamente em Ramallah. Dessa forma, o Uruguai seguirá o mesmo caminho da Argentina em 2011,” disse Conde.

Os países latinos passam a endossar, assim, a frente de cerca de 100 países que reconhecem o Estado da Palestina. Entre eles estão, inclusive, todos os parceiros dos Brics, que o Brasil integra junto com Rússia, Índia e China. “Todos os países ára­bes reconhecem a Palestina, um grande número de países do Leste Europeu e vários latino-americanos, incluindo países da América Central, como a Costa Rica,” justificou Amorim. Nos últimos meses, tem havido grande mobilização pela independência da Palestina. A Autoridade Nacional da Palestina (ANP) fez um pedido de apoio pelo reconhecimento de seu Estado à França e à Espanha e os dois países lideram um movimento regional pedindo esse reconhecimento oficial à União Europeia.“O reconhecimento brasileiro talvez seja um grande passo para que outros países façam o mesmo e isso possa contribuir para a construção da autonomia palestina”, disse Fátima Ahmad Ali, da Federação Árabe-Palestina do Brasil.

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