A morte de Michael Jackson é um bom exemplo de como a celebridade transtorna a vida do célebre. Não são poucos os que sucumbem ao estrelato: Marilyn Monroe, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Elvis Presley,Kurt Cobain, Jim Morrison, Heath Ledger, Elis Regina, Garrincha, Cazuza e até mesmo John Lennon, assassinado por um fã.

Há um princípio grego que prega: "Nada em excesso." O curto preceito explica um pouco por que a fama mata. Segundo o professor e sociólogo Muniz Sodré, autor do livro "O Império do Grotesco", a pregação louva a justa medida, exatamente o que não existe na vida de uma estrela.

"É tudo demais. A pessoa tem dinheiro demais, sucesso demais, come demais, bebe demais", diz Sodré. "A morte acaba sendo o limite para quem vive uma vida sem limites." Em seu livro "O Autoengano", o escritor e professor Eduardo Gianetti também explora a tese de que "o caminho do excesso extravasa as fronteiras da nossa condição mortal, agride a ordem divina ou natural das coisas e, por isso, não termina bem." É uma overdose de poder.

Para a psicanálise, isso pode levar à patologia. De certa forma, os muito famosos já vivem em estado de paranoia, na opinião do psicanalista argentino radicado no Brasil Alberto Goldim. "O paranoico acha que todo mundo está olhando para ele. O famoso tem de lidar com isso na vida real: de fato, está todo mundo olhando para ele mesmo", explica o especialista. A consequência imediata é que ele se afasta do comum e acentua o narcisismo.

Depois, vem a solidão e a busca por suportes, como drogas, álcool e remédios, para a frustração por ter de lidar com a "insignificância humana", simbolizada por atos rotineiros como fazer a barba, tomar banho e escovar os dentes. Michael Jackson só se sentia à vontade no palco. Dizia estar tão acostumado a andar com seguranças e assistentes que tremia se tivesse de abrir uma porta. John Lennon foi vítima da exacerbação do dano causado pela fama ao ser assassinado justamente por quem se supõe amar um ídolo: o fã.

É um caso raro dentro de um universo de quem pagou com a vida o preço dos extremos que o sucesso acarreta em forma de sintomas, doenças psicossomáticas, depressão, realidade deturpada. Para Goldim, Jackson provou quanto era poderoso quando decidiu mudar a própria genética, trocar de pele. Mas até que ponto isso pode ser feito sem consequências? Para Muniz Sodré, "o grotesco do cantor era a falta de limite, a desmedida" – que começou numa infância promissora e virou esquisitice numa maturidade perturbada.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

O complemento grego do "nada em excesso" é o famoso "conhece-te a ti mesmo", que significa não apenas encontrar sua própria verdade, mas conhecer a necessidade de guiar a vida de um modo adequado, visando à virtude e à felicidade, segundo o filósofo Maurício Marsola. Ou seja, premissas que praticamente inexistem na vida de estrelas da grandeza de Michael Jackson.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias