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LUXO
Geraldo Rodrigues: apartamento de US$ 650 mil
no exclusivo condomínio de Bristol Tower e Ferrari 599 GTB na garagem
 

Todas as manhãs, o empresário paulista Geraldo Rodrigues Jr., 47 anos, sai de sua casa, no exclusivo condomínio Bristol Tower, na ilha de Brickell Key, famosa pela vista fenomenal, e desliza sua Ferrari 599 GTB grafite ou sua Mercedes-Benz branca CLK 63 (Black Series, uma edição limitada com apenas 50 no mundo) pelas ruas de Miami até a sede de sua empresa, a ReUnion Sports & Marketing. Demora exatos quatro minutos. A rotina é recente – faz só três meses que ele se mudou para os Estados Unidos –, mas é tão boa que ele nem pensa em alterar. “Em São Paulo, eu levava uma hora e 40 minutos até o trabalho”, diz o empresário, iniciando o rosário de justificativas para mostrar as vantagens de viver ou ter um imóvel em Miami hoje em dia.

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INVASÃO
A corretora Yara Gouveia, da Elite
imobiliária: 70% dos clientes são brasileiros

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CONSUMO
Silmara Vilarinho: apartamento de quatro suítes
e vendedora exclusiva no shopping Dadeland

E elas realmente não são poucas. Além da queda do dólar e da crise financeira e imobiliária nos Estados Unidos, a desproporção de preços do sul da Flórida em relação aos do Brasil favorece ainda mais a compra de imóveis na localidade americana e a diversificação de capital. “Em uma área nobre aqui em Miami, comparável à dos Jardins, em São Paulo, o metro quadrado está em US$ 5 mil. No Brasil, em uma área equivalente, está em US$ 10 mil e no Rio de Janeiro, US$ 15 mil”, compara o brasileiro Leo Ickowicz, 62 anos, dono da respeitada imobiliária Elite International Realty, na cidade, com 45 corretores que trabalham praticamente só com estrangeiros, sendo 70% das vendas atuais para brasileiros.

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Fora os valores tentadores, a sensação de segurança e bem-estar que a cidade americana proporciona também não tem preço para os brasileiros, acuados no país de origem dentro de suas casas e carros, com medo de abrir janelas ou ostentar seus objetos de desejo e últimas aquisições. “Aqui você desfruta sem culpa”, resume um grande empresário brasileiro, que não quer se identificar, mas acaba de comprar uma unidade do edifício Apogee, o mais caro de South Beach, com apenas 60 apartamentos com preços de US$ 3,2 milhões a US$ 5 milhões – 12 foram adquiridos por brasileiros. O empresário, que já tinha um imóvel na linda ilha de Key Biscayne, faz a ponte Brasil-EUA pelo menos quatro vezes por ano, onde passa cerca de dez dias desfrutando do novo imóvel de três suítes, geladeira e micro-ondas embutidos no quarto do casal e garagem privada para seus dois carros – um Rolls-Royce Phantom e uma Ferrari 430, que, juntos, valem mais de US$ 600 mil.

Dos 60 apartamentos do edifício Apogee, o mais caro de South Beach,
com preços de US$ 3,2 milhões a US$ 5 milhões, 12 são de compradores do Brasil

Consumir e ostentar é outro grande prazer para quem desfila elogios ao asséptico balneário. “Aqui você tem condições de ter um carro legal, de andar com um relógio bom”, diz o empresário de marketing esportivo Rodrigues. “Em São Paulo, meus relógios ficavam junto com meu passaporte. Só quando viajava, pegava.” As transações imobiliárias do empresário paulista mostram o oásis em que se transformou a cidade para os brasileiros. Há um ano e meio, ele comprou um apartamento para passar férias, de dois quartos, na ilha de Brickell Key, por US$ 320 mil. Conseguiu vender por US$ 350 mil e adquiriu o do Bristol Tower, também de dois quartos, por US$ 650 mil. Antes da crise o imóvel valia cerca de US$ 1 milhão.

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BOOM
Nos últimos 18 meses, o corretor Marcello Agostini vendeu US$ 100
milhões em imóveis na Flórida, sendo 60% para brasileiros

Os brasileiros estão apaixonados por Miami. E esse amor é correspondido pela economia local. Nos últimos 18 meses, o corretor carioca Marcello Agostini, 38 anos, vendeu um total de US$ 100 milhões em imóveis na Flórida, sendo que 60% foram para brasileiros. “E são praticamente todos clientes novos”, diz ele. A maioria compra à vista, e o preço médio das aquisições é de US$ 2,5 milhões. Uma pesquisa de opinião divulgada no mês passado pela Associação de Corretores de Miami para os mercados da Grande Miami e Fort Lauderdale indica que 9% dos clientes dos corretores locais hoje são brasileiros. Chris Thompson, presidente e CEO do órgão que promove o turismo no Estado, o Visit Florida, disse que, com a crise financeira e imobiliária, os últimos dois anos foram os piores que ele já viveu, mas a presença dos brasileiros na Flórida amenizou a situação. “A estrela brilhante durante esses anos foi o fortalecimento deste mercado.”
O boom imobiliário dos últimos meses já ocorreu no início dos anos 90 no sul da Flórida, lembra Leo Ickowicz, dono da imobiliária Elite. Foi justamente a época em que o paulista decidiu se mudar para Miami. Ele conta que a venda de imóveis estava parada na época, e os brasileiros começaram a comprar. “Os corretores os recebiam com tapete vermelho. Vinte anos depois, eles voltaram a ser os compradores mais importantes daqui”, diz. Um dos locais mais procurados é o St. Regis, um hotel e residência em frente ao Bal Harbour Shops – o badalado shopping, coalhado de lojas de grife –, previsto para ficar pronto no final de 2011. Serão 270 imóveis em duas torres, com apartamentos de duas suítes e 185 metros quadrados. Preço: de US$ 2 milhões a US$ 6 milhões. “St. Regis é um dos locais mais importantes hoje para os brasileiros”, diz Ickowicz, que já vendeu três apartamentos lá nos últimos meses e está assinando o contrato do quarto. Segundo ele, o projeto está 55% vendido, 25% dos quais foram para brasileiros.

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FUTURO
Tony Duque: apartamento de US$ 302 mil, Mercedes-Benz
E-350 e planos de comprar um imóvel maior e abrir um negócio

Seu filho Daniel Ickowicz, 33 anos, braço-direito do pai na empresa, diz que este mercado é tão forte que corretores – inclusive muitos que falam espanhol e uma vendedora francesa do incorporador do St. Regis – começaram a fazer aula de português, um serviço que Yara Gouveia, uma das corretoras da Elite, passou a oferecer recentemente. “Eles já não estão conformados em só falar espanhol com os brasileiros. Eles querem atender em português”, diz Daniel.

VIPs
Os corretores imobiliários
do balneário da Flórida estão
aprendendo português para melhor
atender seus novos clientes

A advogada brasileira Silmara Vilarinho, 44 anos, ajuda a animar o mercado econômico do balneário. Ela se mudou para Miami em 2007, para acompanhar o filho piloto, Giancarlo, que na época corria pela Fórmula BMW e hoje, aos 18 anos, está na Indy Lights. Mal chegou e já comprou um apartamento de quatro suítes em um luxuoso edifício na Brickell Key. Em pouco tempo, foi apresentada a Michelle Diaz, 35 anos, vendedora da Chanel na Saks Fifth Avenue do shopping Dadeland. “Prefiro comprar com brasileiros”, diz Silmara, que tinha marcado hora para fazer umas comprinhas de Natal: uma bolsa por US$ 3,2 mil e uma pulseira por US$ 1 mil, ambas da Chanel, um xale da Louis Vuitton para a filha Stephanie, 21 anos, e um tênis da Prada para Giancarlo.

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Se o mercado imobiliário e o comércio estão em alta entre os brasileiros, o turismo não poderia ser diferente. Neste setor, os números são elevados. De acordo com o Greater Miami Convention & Visitors Bureau, que assiste e acompanha o turismo local, o número de turistas brasileiros em 2009 foi de 482.871. Segundo Visit Florida, e empresas privadas que promovem o turismo nacional e internacional, 712 mil turistas do Brasil visitaram o Estado e gastaram US$ 785,5 milhões em 2009, ficando só atrás do Canadá e Reino Unido.

O empresário Tony Duque, 38 anos, de São Paulo, foi fisgado pela onda turística. Seus pais, Abel Antonio Duque, 69, e Maria Tereza Duque, 65, são portugueses e sempre passavam as férias no país de origem. Ocupados com os negócios, entre eles a Rede Duque de 40 postos de gasolina em São Paulo, não tinham disposição para conhecer Miami. Até o ano passado, quando Duque resolveu juntar toda a família para passar o Ano-Novo. Adoraram. Em maio, depois de alguns meses ponderando, ele comprou um apartamento de dois quartos na região da Brickell. Foi uma barganha, diz Leo Ickowicz, cuja imobiliária lhe vendeu o apartamento, um dos muitos tomados pelos bancos. “Esse imóvel já valeu US$ 650 mil há uns três, quatro anos. Hoje valeria US$ 400 mil. Como foi tomado pelo banco, eles pagaram US$ 302 mil.” Duque comprou à vista. Hoje a família inteira usufrui do apartamento e de Miami. Desde que compraram, já foram à cidade sete vezes e agora no final do ano devem estender a estadia por três meses. “Lá (no Brasil) está perigoso. Não posso ter um carro caro. Se eu tiver, tenho que blindar. Você chega aqui, vê os carros, pode andar na rua de relógio, corrente. No Brasil, não faço isso”, diz Duque, prestes a pegar a chave de uma Mercedes-Benz E-350, preta, 2011. “Esse carro, no Brasil, eu não compro. Aqui, comprei na hora”, completa o empresário, que pagou US$ 58 mil com taxas e seguro, um quarto do que pagaria no Brasil. Duque vai aproveitar essa estada mais longa de todos para ver um apartamento maior na praia e buscar alguma oportunidade de negócio, como um café em um shopping center e postos de gasolina. Ele espera, no futuro, poder passar mais tempo em Miami do que em São Paulo. “Se eu tiver um comércio aqui, fico e não vou embora.”

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MUDANÇA
A família Barbi, que sairá de Canoas (RS) rumo
a Miami, já tem um apartamento de US$ 285 mil. Mas quer um de US$ 700 mil

Esse é o caso de muitos brasileiros que compram para investir, pela oportunidade do momento, e acabam se encantando com a cidade e seu estilo de vida. O empresário Rogério Barbi, 55 anos, de Canoas (RS), sempre quis ter uma propriedade na Flórida e, em agosto de 2009, comprou um apartamento de dois quartos com vista para o mar em um prédio novo, o Ocean Marine Yatch Club, na praia de Hallandale no condado de Broward, por US$ 285 mil. “Sempre admirei o povo americano e me identifico muito com ordem, com regras, com tudo isso aqui”, diz Barbi. Seria um apartamento de férias para desfrutar com a família. Mas Barbi, que se formou em veterinária em janeiro, resolveu aproveitar a oportunidade da compra e se mudou para lá. “Assim que eu conseguir validar meu diploma, vou abrir meu próprio negócio”, diz. “No Brasil o veterinário não é muito valorizado. Então eu decidi ir pelo caminho mais difícil, que é começar do zero. Mas eu sei que vou ser premiado. Vou poder trabalhar, ganhar meu dinheiro, ter um bom carro e vou poder aproveitar minha vida muito mais.” Ele pensa em comprar um apartamento maior, de três suítes, na faixa de US$ 600 mil a US$ 700 mil com o “pé na areia”. Para a alegria da esposa, Maria. “O que eu mais gosto em Miami são as compras, que são maravilhosas, baratas”, diz. Barbi deve manter o segundo imóvel por mais algum tempo. “Depois poderia pensar em vender porque uma hora os imóveis vão subir”, diz. “Vai terminar essa moleza. Eles vão se valorizar com certeza e a gente também vai ganhar com isso.”

Mais da metade das unidades do edifício St. Regis,
que terá preço de até US$ 6 milhões, foi adquirida por brasileiros

Nenhum analista arrisca uma previsão sólida de quanto tempo vai durar essa “moleza”. Sean Snaith, diretor do Instituto de Competitividade Econômica da Universidade do Centro da Flórida e especialista no setor imobiliário, prefere não fazer conjecturas. “Não quero nenhum brasileiro bravo vindo para cima de mim depois”, brincou. “Mas garanto uma coisa: se alguém comprar um imóvel hoje, acho que em dez anos vai ter feito um excelente investimento.” Andrea Heuson, professora de finanças da Universidade de Miami também com especialidade na área imobiliária, concorda. “Com o fortalecimento do real, os imóveis no sul da Flórida parecem uma barganha,” diz ela. “Enquanto o dólar permanecer fraco, e está bem fraco em níveis históricos, o investimento imobiliário vai ser favorável para estrangeiros.”
Já a Condo Vultures, uma das maiores consultoras imobiliárias da região, divulgou recentemente um estudo indicando que o número de imóveis disponíveis para revenda no sul da Flórida caiu em dois anos, de 108 mil em novembro de 2008 para 66 mil na última semana de novembro deste ano. Mas Peter Zalewski, um dos principais consultores da casa, garante que ninguém precisa se preocupar com o fim das ofertas. Elas irão continuar por algum tempo, pois os bancos que tomaram os imóveis estão controlando o ritmo em que colocam as unidades de volta no mercado para equilibrar os preços – que, com isso, devem começar a subir gradualmente. “Então, quem quer comprar pelo menor valor, deve comprar o quanto antes.”

O corretor Daniel Ickowicz acredita que os preços dos imóveis atingiram o nível mais baixo e as barganhas vão continuar por pelo menos mais dois anos, talvez três, até a economia dos EUA se recuperar e os americanos voltarem a comprar.“Há dois anos, os preços continuavam caindo. Há um ano se estabilizaram. E, desde então, têm andado de lado. Nem sobem nem descem. O fato de estar andando de lado foi o que deu tranquilidade para o brasileiro comprar aqui”, diz Ickowicz, que culpa a especulação e a oferta de crédito pela enorme crise imobiliária que os Estados Unidos estão vivendo.“O empréstimo era muito fácil. Qualquer um entrava no banco e pegava emprestado 100% do imóvel”, analisa. “Então, na hora em que o valor caiu, a pessoa não teve o menor problema em entregar a chave para o banco porque não tinha colocado nada. Por isso, há imóveis com valores entre US$ 400 mil e US$ 500 mil que hoje estão sendo vendidos por US$ 300 mil. Caiu de 40% a 50%.” Sorte dos brasileiros.

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