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Faz quase 25 anos que produzimos mensalmente na “Trip”, ensaios fotográficos que tentam capturar a sensualidade feminina no que ela
tem de mais inspirador e belo. Há cerca de dez anos, fazemos o mesmo com a sensualidade masculina, nas páginas da revista “TPM”. Não é muito, se considerarmos que são do período paleolítico os primeiros registros de expressões artísticas exaltando o sagrado e o belo dos corpos de mulheres e de homens. Mas é o suficiente para aprender um pouco, especialmente sobre a magia daquilo que não pode
ser explicado ou catalogado.

Nesses anos todos, fotografamos modelos, cantores, muitas atrizes, atletas, profissionais liberais, jovens, velhos, gente de meia-idade, de meia três quartos, homens e mulheres com ou  sem nenhuma pretensão profissional que simplesmente desejaram por um motivo ou por outro ter um momento de suas vidas e de seus corpos documentado e exposto ao olhar de seus semelhantes.

Poderia gastar cada um dos caracteres desta coluna com digressões sobre ângulos que são mais ou menos capazes de atrair os olhos e de emocionar cérebros e sistemas linfáticos de pessoas de todos os 22 sexos.

Ou com a relação delicada que é preciso haver entre fotografado e fotógrafo.  Mas vamos a algo, a meu ver, muitíssimo mais intrigante.

Certas pessoas crescem diante da câmera.

E elas são uma minoria reduzidíssima. É muito frequente ver o contrário. Não é preciso estudar física quântica para saber que qualquer organismo vivo altera seu comportamento quando sabe que está sendo observado. Em geral, a objetiva apontada para uma pessoa desencadeia imediatamente uma  química intensa que ativa uma correria desembestada de hormônios, egos, vaidades, inseguranças, autoestimas, cada um correndo para um lado, alguns se trombando, algo como a cena dos traficantes do Alemão batendo em retirada naquela estrada de terra. Claro, na maioria dos casos, depois de algum tempo, às vezes com a ajuda de palavras bem escolhidas, de música boa, do silêncio certo ou de um drinque, as coisas tendem a entrar em calmaria. 

Mas, invariavelmente, essa tensão acaba impressa nas fotos. Para o bem e para o mal. 

Marjorie  Estiano provou ser do outro tipo.  Alguém dirá que sua experiência no teatro lhe dá léguas de dianteira sobre os simples mortais, na hora de se despir de tudo e olhar para a lente fingindo ser uma personagem. Outros vão dizer que quem canta para milhares de pessoas desenvolve uma espécie de dom meditativo que torna a abstração total, coisa quase banal e automática. Ou, ainda, pode ser que falem que quem pôs a cara numa novela global se entrega aos leões  e se abre num grau tamanho que, se sobreviver, nunca mais será afetado pelos males da exposição pública.

Pode ser tudo isso. 

Mas olhe com atenção para a foto ao lado, retirada do ensaio de Marjorie clicado por Autumn Sonnichsen para a próxima edição da “Trip”. 

Esta não é a atriz de teatro, nem a protagonista  de novela global, nem a cantora premiada. 

Marjorie, você sabe quem é ela?

 

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente