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Foi numa de suas viagens ao Brasil que o renomado arquiteto belga Vincent Callebaut realizou o sonho de conhecer a Amazônia – e, estando nela, olhar de perto e demoradamente uma vitória-régia gigante. Com o formato de nossa planta aquática na cabeça, ele a transportou em seus computadores para outras águas, especificamente para os oceanos Pacífico e Índico. E a transformou então no sofisticado projeto tecnológico chamado Lilypad, uma espécie de condomínios de cidades flutuantes, nas quais se pode morar, fora dos continentes, com todo o conforto e os recursos da mais moderna tecnologia. "Eu me inspirei na vitória-régia amazônica, imaginando uma estrutura 250 vezes maior que a original", diz Callebaut. Uma vitória-régia chega a possuir 2,5 metros de diâmetro e suporta até 40 quilos, se eles forem bem distribuídos sobre a planta. Adaptando-se a natureza a esses arquipélagos de alto luxo, tem-se que tais cidades ostentarão aproximadamente cinco quilômetros de diâmetro e darão conta de 120 mil toneladas. Segundo os cálculos de Callebaut, cada vila do conceito Lilypad acomodará cerca de 50 mil habitantes, que terão à mão sistemas computadorizados para controlar a produção da energia gerada pelas correntes de vento, pela luz solar e por usinas movidas pelas ondas do mar. Haverá também processos tecnológicos de dessalinização da água para torná-la potável. "Tudo será controlado, medido e distribuído pelas casas através de chips", diz o arquiteto.

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Os moradores dessas ilhas usufruirão de restaurantes, cassinos, boates e cinemas. Mais: terão quadras de tênis e de basquete, pistas de boliche, campos de golfe, piscinas, academias de ginástica e uma grande área de patinação. Na costa sul dessas ilhas artificiais, pontos de pesca com painéis digitais informarão as espécies de peixes que circulam pelos arredores. O acesso à internet em alta velocidade funcionará através de torres de transmissão que garantem a tecnologia sem fio e, para transporte, helipontos são a palavra de ordem: os moradores das ilhas poderão se valer de helicópteros para irem ao continente. Esse sonho que soma tecnologia e a mais pura natureza tem, é claro, um alto preço. Por exemplo: um apartamento com 400 metros quadros em Lilypad custará cerca de US$ 11 milhões. Cada condomínioarquipélago está orçado em aproximadamente US$ 30 bilhões.

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De bem com a natureza, as vilas flutuantes são um show de sustentabilidade. Nelas não haverá usinas de tratamento de esgotos, mesmo porque não existirão esgotos a serem derramados: a cidade contará com sanitários munidos de incineradores, ou seja, detritos serão queimados e idêntico destino terá o óleo utilizado nessa queima. "Ao ser destruído em caldeiras a vapor ele gerará eletricidade, em vez de ser despejado no oceano e gerar poluição", diz Callebaut. Vidros, papéis e metais serão reciclados. Finalmente, eis a mais revolucionária inovação desse projeto: o solo que "suga" as emissões de poluentes. Esse chão é formado por dupla cobertura de fibras de poliéster e camada de dióxido de titânio que reagem com raios ultravioleta – é através dessa reação que se dará a absorção da poluição atmosférica. Aplaudido internacionalmente, o planejamento dessas cidades da conta dos principais desafios lançados recentemente em Paris pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico: cuidar do clima, da biodiversidade, da água e da saúde, dando conforto ao homem.