Nelson Jobim, nosso ministro da Defesa, é um tremendo fofoqueiro. Samuel Pinheiro Guimarães, o ideólogo da política externa brasileira, é antiamericano da unha do pé ao último fio de cabelo. Nossa vizinha Cristina Kirchner obedecia às ordens do marido, o falecido Nestor Kirchner. O russo Dimitri Medvedev é um ajudante de ordens do ex-chefão da KGB Vladimir Putin. Silvio Berlusconi aprecia mais as animadas festas da sua mansão na Sardenha do que o dia a dia do governo. Israel adoraria que os americanos disparassem bombas contra as instalações nucleares do Irã. O regime do Paquistão tem ligações com grupos terroristas. E Carla Bruni é uma isca, talvez uma Mata Hari moderna, utilizada pelo marido, Nicolas Sarkozy, em busca de negócios na América do Sul.

No fundo, nos 250 mil telegramas confidenciais já abertos pelo site WikiLeaks, há mais segredos de Polichinelo do que revelações bombásticas. De relevante mesmo, apenas a confirmação de que os Estados Unidos escondem armas nucleares em países como Bélgica, Holanda e Turquia. Se as comunicações entre embaixadores americanos e o Departamento de Estado se resumem ao que foi publicado, a surpresa é que esse exército de diplomatas só seja capaz de levantar informações rasas e insignificantes. A verdadeira novidade do caso WikiLeaks é a fragilidade do império. Não apenas tecnológica, pela falha nos sistemas de proteção às informações secretas, mas também intelectual. Chega a ser constrangedor que diplomatas americanos se refiram ao atual e ao ex-presidente da Rússia como “Batman e Robin”.
Tio Sam ficou nu, mas sua nudez

só revela o que já se sabia: como xerife global, os Estados Unidos tentam interferir em assuntos internos de outros países. A diferença é que, agora, se trata de um império em decadência, acossado pela maior crise econômica em 80 anos. Na mesma semana em que o WikiLeaks desvelou os segredos da diplomacia americana, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, abriu os números da ajuda federal. Foram nada menos que 21 mil empréstimos, que despejaram trilhões não apenas nos grandes bancos dos Estados Unidos, mas também em empresas como GE, Caterpillar e McDonald’s.

Frágeis no front internacional e também na economia, os Estados Unidos ainda poderiam se vender ao mundo como um “império moral”, a terra da liberdade e da imprensa livre. Mas erraram mais uma vez ao abater o site WikiLeaks, que chegou a ser retirado do ar pelos servidores da Amazon.com. Seu fundador, o australiano Julian Assange, entrou na lista dos homens mais procurados pela Interpol. Pura bobagem. Seu único crime sexual foi nos transformar em voyeurs de cenas banais. Detalhe: o site, agora hospedado na Europa, já voltou a funcionar.


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