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DISPUTA
Próximo desafio de Dilma é aplacar os interesses dos
partidos que apoiaram sua candidatura

 

A presidente eleita Dilma Rousseff está escolhendo os nomes do seu Ministério com cuidados redobrados. Primeiro, para tranquilizar mercado e investidores, tratou de apontar os nomes de sua equipe econômica, como prova de que a continuidade não era apenas promessa de campanha. Depois, indicou o núcleo duro de petistas que a acompanhará no Palácio do Planalto, tendo à frente o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, na Casa Civil. A primeira seleção não trouxe surpresa, até porque é bastante identificada com o presidente Lula. Mas deu origem a comentários sobre a excessiva influência do padrinho de sua candidatura. “Esse raciocínio só pode partir de gente que não conhece Dilma Rousseff”, disse à ISTOÉ o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.“Quem conviveu com ela no Palácio sabe que é natural que se cerque de pessoas que conhece. E também que ouça o presidente Lula, e não o José Serra ou o DEM. Vocês vão conhecer o pulso firme de Dilma Rousseff a partir do dia 1º de janeiro.”

Confirmado na sexta-feira 3, o grupo palaciano do novo governo traz, além de Palocci, Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência e Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais. Também atuará como conselheiro de Dilma o deputado José Eduardo Cardozo, que será seu ministro da Justiça. À exceção de Cardozo, todos são egressos do governo Lula e constituem peças-chaves do quebra-cabeça ministerial. Eles pertencem ao círculo de estrita confiança de Dilma, ao qual se somará o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo íntimo da presidente, que vai assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que ela trata carinhosamente de Paulinho, deve chefiar o Ministério das Comunicações, com a missão de reestruturar o combalido Correios. Segundo o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP), é bom lembrar que “2011 não será o nono ano do governo Lula, mas o primeiro ano de Dilma Rousseff”.

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“Vocês vão conhecer o pulso firme de Dilma a partir de 1º de janeiro”
Franklin Martins, ministro da Comunicação Social

 

Após a costura cuidadosa do núcleo central, Dilma agora está dedicada a uma tarefa complexa: compatibilizar os interesses dos partidos que apoiaram a sua candidatura, principalmente o pantagruélico PMDB. Uma missão quase impossível, pois o PMDB é um partido de mil caras. Existe o grupo do Senado e o da Câmara e há demandas isoladas de governadores, do vice-presidente Michel Temer e também do presidente do Senado, José Sarney. “Quem tem que bater o martelo é a presidente. A conversa é em torno de cinco ministérios”, disse Temer. Ao fim e ao cabo, o PMDB só terá quatro ministérios. Dois para a Câmara e dois para o Senado. Por enquanto, Dilma atendeu ao pedido de Sarney e decidiu reconduzir o senador Edison Lobão (PMDB-MA) ao Ministério de Minas e Energia. Apesar das pressões de Temer, não é certa a nomeação do ex-governador do Rio Moreira Franco. Na Câmara, o PMDB contabiliza a indicação do deputado Wagner Rossi para a Agricultura. “Ainda aguardo uma posição, esse não é o momento de falar”, desconversa Rossi.

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A cautela de Rossi se explica. Dilma não aceita que falem por ela, a não ser quando dá delegação expressa. Na quarta-feira 1º, a presidente eleita reagiu à inconfidência do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que saiu de uma audiência na Granja do Torto trombeteando que o ministro da Saúde seria seu afilhado político Sérgio Côrtes. A informação de Cabral repercutiu mal no PMDB, que tratou de alertar que Côrtes nada tinha a ver com a cota do partido. Irritada, Dilma mandou que seus assessores desmentissem a notícia, o que foi feito por José Eduardo Cardozo. Não satisfeita, a presidente aproveitou a presença de fotógrafos, numa audiência com agentes da saúde, e fulminou o assunto: “Eu queria adiantar que ainda não escolhi o ministro da Saúde.” Cabral desculpou-se: “Errei por ter me precipitado.”

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Não bastasse o imbróglio do PMDB, Dilma lida com as ambições dos governadores do Nordeste, região que cumpriu papel estratégico na sua eleição. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também preside o PSB, saiu na frente e tomou do PMDB o Ministério da Integração Nacional, que deverá ser ocupado pelo ex-prefeito de Petrolina Fernando Bezerra Coelho. O PSB quer fazer do senador Antônio Carlos Valadares o ministro do Turismo. No tabuleiro de forças político, isso abriria uma vaga para seu suplente no Senado, o presidente do PT, José Eduardo Dutra. O avanço dos socialistas despertou ciumeira nos governadores petistas Jaques Wagner, da Bahia, e Marcelo Déda, de Sergipe. Eles indicaram para cargos no governo federal a atual secretária da Casa Civil da Bahia, Eva Maria Cella Dal Chiavon, e o ex-governador e senador eleito pelo Piauí Wellington Dias. Os nordestinos, porém, se mantêm prudentes: “Vamos deixar a presidente Dilma muito à vontade, não haverá pressão”, diz Dias.

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PODER
Núcleo forte do governo Dilma será formado por ministros egressos
do governo Lula ou identificados com o presidente

 

Outra frente de atrito é o próprio PT. Detentor da maior fatia no Ministério, o partido ainda faz pressão por vários nomes, principalmente de políticos que perderam as eleições. A ala paulista já tem o senador Aloizio Mercadante, em fim de mandato, como futuro ministro da Ciência e Tecnologia. E reage diante da permanência de Fernando Haddad à frente do Ministério da Educação. O PT também não vê com bons olhos a confirmação de Nelson Jobim no Ministério da Defesa. Considera que Jobim, apesar de filiado ao PMDB, é quase um tucano. No Planalto, explica-se que Jobim foi o único civil capaz de pacificar os comandos militares e pôr em marcha a nova estratégia de Defesa. Mas o que não falta nesses dias de montagem dos ministérios é choro e ranger de dentes da base aliada, mesmo porque não há lugar para todos. Até que o novo governo não esteja totalmente definido, Dilma terá um longo e árduo trabalho pela frente.


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