chamada.jpg
OUTRO MUNDO
O lago Mono, na Califórnia, é o lar da bactéria que mudou
a maneira como entendemos a formação da vida

 

Há décadas os cientistas sabem que humanos, micróbios, plantas e baleias-azuis têm muito mais em comum do que apenas o planeta que habitamos. Segundo o consenso vigente até a semana passada, todas as formas de vida da Terra seriam compostas pela combinação de seis elementos químicos: carbono, oxigênio, nitrogênio, hidrogênio, enxofre e fósforo. Além de definir um padrão observado nas mais diferentes espécies terrestres, a fórmula serviu como regra de ouro para a astrobiologia – ciência que basicamente procura por seres alienígenas. Dessa forma, todas as máquinas enviadas pelo homem aos nossos vizinhos do Sistema Solar com essa finalidade buscaram apenas o óbvio. Na quinta-feira 2, uma descoberta anunciada pela Nasa mudou esses parâmetros radicalmente.

Um estudo liderado pela cientista Felisa Wolfe-Simon, do Instituto de Astrobiologia da agência espacial americana, comprovou que o micro-organismo Halomonadaceae GFAJ-1 é capaz de trocar o fósforo pelo arsênio (tóxico para boa parte dos seres vivos) para manter sua máquina bioquímica em funcionamento. A hipótese havia sido levantada anos atrás e foi comprovada a partir do isolamento em laboratório da bactéria, descoberta no fundo do lago Mono – um ambiente salgado, alcalino e tóxico cravado no leste da Califórnia, no qual o arsênio é encontrado em altas doses. O fato abre o leque na busca por vida em outros planetas e deve mudar a forma como tais estudos são conduzidos.

img1.jpg

 

Uma vez no laboratório, a bactéria passou a ser alimentada com uma dieta rica em arsênio e paupérrima em fósforo. Mesmo assim, ela sobreviveu e desenvolveu-se normalmente. Mais: pouco a pouco, o elemento químico passou a assumir as funções que antes eram do fósforo. A saber: compor os “blocos” de DNA, algumas proteínas e as membranas que envolvem as células do micro-organismo. “Abrimos uma porta e descobrimos que aquilo que considerávamos constantes absolutas não são exatamente isso”, disse Felisa na entrevista coletiva realizada na sede da Nasa, em Washington.

A empolgação com os resultados da pesquisa é totalmente justificável, mas acabou fazendo com que a Nasa trocasse os pés pelas mãos na hora de divulgá-los. Em grande estilo, a agência espacial convocou a imprensa mundial um dia antes da entrevista coletiva anunciando “uma importante descoberta em astrobiologia”. Foi o que bastou para gerar uma expectativa irreal. “A Nasa encontrou vida alienígena?”, especulou o site da revista americana “PC Magazine” na quarta-feira 1º. No Twitter, o assunto dominou boa parte dos “trending topics”, que listam os assuntos mais populares na rede de microblogs. “Esta é uma descoberta fenomenal. Sinto muito se as pessoas estão decepcionadas, mas agora talvez sejamos capazes de encontrar um ET”, disse Mary Voytek, diretora do programa de astrobiologia da Nasa.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Apesar de ter sido ofuscado pelos rojões, o trabalho realmente muda os rumos dos esforços na busca por vida fora da Terra. A partir de agora, olharemos para as dunas de Marte, as crateras da Lua e os oceanos cobertos de gelo de Encélado, um dos 60 satélites conhecidos de Saturno, com outros olhos. A aventura continua. E o seu desfecho pode ser diferente de tudo aquilo que imaginávamos.

img.jpg
PIONEIRISMO
A pesquisadora Felisa Wolfe-Simon liderou a equipe
de astrobiologia financiada pela Nasa


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias