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TRIBUTO
Iniciativa de ONG britânica é movida pelo trabalho de voluntários

 

Um projeto ambicioso está levando conforto a milhares de parentes de soldados que morreram durante as duas grandes guerras mundiais e não têm condições de visitar as sepulturas. Voluntários fotografam e catalogam túmulos de combatentes mortos nesses conflitos e colocam essas imagens na internet. Há 1,6 milhão de fotografias de sepulturas de homens e mulheres de 46 nacionalidades disponibilizadas em uma espécie de cemitério virtual na internet. O Projeto Fotográfico de Túmulos de Guerra está ligado à Commonwealth War Graves Comission, uma orga­ni­zação in­ter­­­­­­­­na­cional que des­­­­de 1917 presta ­tri­­­­­­buto às vítimas de confrontos de 54 países.

A empreitada começou em 2008 e hoje conta com 900 voluntários de 63 países. Esse batalhão percorreu 23 mil cemitérios, memoriais e terrenos de igrejas de 150 nações. O plano entra agora em uma nova etapa – registrar túmulos de vítimas de outros conflitos e incluir cemitérios de regiões que tiveram atuação coadjuvante nos confrontos mundiais, como o Brasil, que entrou na Segunda Guerra (1939-1945) em 1943. O projeto tem, inclusive, uma lista de sepulturas de 175 militares britânicos enterrados na América do Sul para incluir em seu banco de imagens. O Brasil, que na Segunda Guerra cedeu áreas no litoral às forças aliadas para a instalação de bases navais e aéreas, abriga os corpos de 24 deles. Em Natal, onde funcionou a base militar americana de Parnamirim, está o Cemitério do Alecrim. Lá estão os corpos de um piloto e um sargento da Força Aérea Real Britânica, mortos em 1944, aos 23 e 21 anos, respectivamente. Também há soldados no Cemitério dos Ingleses, em Gamboa (RJ), a maioria da Marinha, mortos na Primeira Guerra. Além de outras sepulturas na Igreja Anglicana do Pará, no Cemitério Britânico de Santo Amaro, no Recife, e no Cemitério da Filosofia de Santos (SP). O responsável pelo projeto, Steve Rogers, explica que a inclusão dessas fotos só depende da boa vontade de voluntários. “À medida que nosso trabalho fica conhecido, mais pessoas querem ajudar”, diz. Há dois ex-combatentes brasileiros na biblioteca virtual. Um deles é o marinheiro E. Possolo, que morreu em 1918 e está enterrado no Cemitério de Eastbourne, na Inglaterra. José Bispo dos Santos, da Marinha, morto em 1945, se encontra no Cemitério Militar de Porto de Espanha, em Trinidad e Tobago.

Rogers se emociona ao lembrar da história da escocesa Isabella Lindsey, 99 anos, que sonhava em ver o túmulo de seu pai, morto em 1918. Por causa da guerra, a família havia se mudado para a Austrália quando ela tinha 11 anos. Ao receber uma carta da neta de Isabella, o site localizou a sepultura na França e acionou um voluntário, que não só fotografou a sepultura como depositou flores em nome da família. “Os filhos e netos fizeram um vídeo do momento em que Isabella recebeu as fotos e nos enviaram, foi impossível conter as lágrimas”, lembra o idealizador do site. Para se voluntariar, basta fazer um cadastro no site twgpp.org/index.php.

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