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RISCO
O sapo E. thorectes é uma das espécies criticamente ameaçadas

 

As consequências dos terremotos de janeiro e o recente surto de cólera são apenas algumas das mazelas vividas pelos haitianos. O país mais pobre das Américas está à beira de uma extinção em massa comparável à que apagou os dinossauros da face da Terra, há 65 milhões de anos. O alerta é do biólogo Blair Hedges, da Penn State University (EUA). Ele lidera uma operação – iniciada em novembro e sem data para terminar – que resgata sapos e répteis no país e em outras nações do Caribe. A intenção é determinar quais espécies vivem no território, descobrir novas e apontar com precisão os locais onde elas ocorrem, para poder repovoar a floresta no futuro.

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DEVASTADAS
Quase todas as florestas haitianas foram
dizimadas para a produção de carvão

 

“A perda da biodiversidade em consequência da atividade humana é largamente reconhecida como a causa para o fim de muitas espécies”, disse Hedges à ISTOÉ. “O Haiti, no entanto, vai além, porque lá quase não existem mais florestas.” O principal motivo para a derrubada é usar a madeira para fazer carvão, o único combustível que a maioria dos dez milhões de habitantes tem para cozinhar. Anos de devastação fizeram com que apenas 1% da mata ori­ginal ainda esteja de pé.

O trabalho de Hedges, uma das maiores autoridades em pesquisas de anfíbios e répteis no mundo, já deu os primeiros resultados. Exemplares de dez espécies de sapos haitianos criticamente ameaçadas vivem no Zoológico da Filadélfia, depois de capturadas por sua equipe. Alguns animais já se reproduziram e os filhotes estão crescendo. Outra frente de trabalho é o armazenamento de DNA. O material está congelado num banco genético na Penn State University. A ideia é que os anfíbios possam ser clonados no futuro, caso realmente desapareçam da natureza. “A clonagem é possível, mas ainda é difícil de realizar e muito cara. Esse banco é como um seguro: esperamos nunca precisar usá-lo, mas é melhor que o tenhamos”, explica Hedges.

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DIFÍCIL MISSÃO
O biólogo Blair Hedges (ao fundo, o segundo à esq.) chefia equipe que
tenta reproduzir em cativeiro as espécies de sapo mais ameaçadas

 

Cerca de 170 espécies de sapo e répteis são conhecidas no Haiti e a maioria está ameaçada de desaparecer. No mundo todo, esses anfíbios, que podem ser do tamanho de uma unha, têm desaparecido nas últimas duas décadas. No país caribenho, no entanto, 92% das 50 espécies conhecidas correm o risco de sumir. Cerca de 30 delas vivem apenas naquele território e não aparecem sequer na vizinha República Dominicana. “Não há outro lugar no Ocidente – e alguns cientistas afirmam que no mundo todo – onde a ameaça de extinção seja maior”, avalia Hedges.

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