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Esqueça a imagem da sala esfumaçada e montanhas de dinheiro mudando de mãos instantaneamente. Na Copa do Mundo do Pôquer, o World Series of Poker (WSOP), disputado em Las Vegas por 6.844 jogadores, o clima é de competição nas dezenas de mesas espalhadas pelos salões do hotel Rio. Alguns jogadores escondem o olhar por trás de óculos escuros, outros ouvem música para descontrair e massagistas circulam pelo local para tirar a tensão das costas de quem enfrenta maratonas de até 12 horas de total concentração. O vencedor levará o fabuloso prêmio de US$ 9 milhões – quase US$ 200 milhões foram distribuídos aos primeiros colocados do torneio principal e dos outros 54 paralelos. A final só será disputada em novembro, mas o Brasil já tem um campeão: o curitibano Alexandre Gomes, 25 anos, que venceu um dos torneios-satélites e faturou US$ 779 mil, além de um bracelete de ouro cravejado de diamantes. "Ainda nem sei o que vou fazer com o dinheiro", sorria ele, hoje dono de mais de US$ 1 milhão em prêmios.

Brasileiros vão a Las Vegas disputar o torneio mais importante
do mundo e fazem fortuna de US$ 1 milhão

A vitória garantiu a Alexandre a chance de disputar o torneio principal sem precisar pagar a inscrição de US$ 10 mil, um contrato de patrocínio da PokerStars.net, o maior site de pôquer online do mundo, e um lugar na breve história do Brasil no texas hold’em, como é chamada esta modalidade de jogo – é disputado por nove pessoas, que recebem duas cartas e têm de combiná- las com as cinco abertas pelo crupiê. Mais de uma centena de brasileiros estiveram em Las Vegas no último mês e meio disputando um dos torneios e 47 participaram do evento principal. Para muitos deles, o pôquer deixou de ser um hobby e virou profissão. Advogado, Alexandre largou o emprego em um escritório no final do ano passado e hoje roda o mundo participando de torneios. "No Brasil ainda existe um certo preconceito com o pôquer por pura desinformação", diz ele, que começou a jogar há três anos.

i48700.jpgO pôquer já fez outros milionários. Aos 33 anos, o paulista André Akkari, que também foi disputar o WSOP em Las Vegas, é o mais famoso jogador nacional. Até abril de 2005, ele era o típico cidadão de classe média com dificuldades de fechar as contas do mês. Casado e pai de duas filhas, tinha uma prestação de apartamento tão alta que lhe sobrava apenas R$ 800 para viver. "Tinha milhões de dívidas, estava sempre estourado no cartão de crédito", conta. Sócio em uma pequena empresa de tecnologia, um dia recebeu o trabalho de desenvolver um site de pôquer online e interessou-se pelo assunto. Passou a assistir a torneios na tevê, comprou livros e começou a jogar pela internet em partidas valendo pouco dinheiro, com inscrição de centavos. Na internet e nos torneios, a ficha não tem um valor correspondente em dinheiro. Paga-se uma inscrição e os melhores colocados recebem prêmios de acordo com o desempenho.

Akkari levou a primeira bolada em um jogo online em junho de 2005 e usou os US$ 5 mil ganhos para saldar dívidas. Com outras vitórias, bancou sua primeira ida a Las Vegas em novembro. Lá, pagou US$ 70 de inscrição em um torneio no qual ficou em sexto lugar e ganhou US$ 450. Pressionado pelos amigos e com o apoio da mulher, usou este dinheiro para entrar em outra competição. Jogou bem, teve um lance de sorte nas cartas e saiu vencedor. Prêmio: US$ 23 mil. "Chorei de felicidade com minha mulher ao telefone", conta. Akkari já chegou a jogar 12 horas por dia na internet em 20 mesas ao mesmo tempo. Hoje, com mais de US$ 1 milhão em prêmios, é um profissional: participa de torneios pelo mundo, tem um site e uma revista de informações sobre pôquer e é comentarista da ESPN.

Ao contrário do que muita gente pensa, além de alguma dose de sorte, é preciso muita estratégia e uma boa noção de probabilidade para ser um bom jogador. "A habilidade pode se sobrepor às cartas", diz Leo Bello, 32 anos. Médico de formação, ele descobriu o jogo cinco anos atrás pela internet. Hoje vive de pôquer, organiza torneios pelo Brasil e irá lançar seu segundo livro sobre o assunto. Concentração é outra pré-condição para ser um vencedor. "Um erro e você pode estar fora", diz Gualter Salles, piloto de stock car, que este ano deu um tempo nas pistas para se dedicar às cartas. Por isso, quem quer se dar bem no pôquer deve seguir o conselho de Chris Moneymaker (o sobrenome é real), que ganhou o WSOP de 2003 e voltou a Las Vegas este ano: "Jogue duas vezes por semana e estude quatro."

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