i48685.jpgHá uma máxima na política brasileira que diz que quem tem poder e carisma elege até poste em eleições. Cunhada pelo cacique baiano Antônio Carlos Magalhães, em 1982, na volta das eleições diretas para governador, a expressão tornou-se sinônimo de transferência de voto e reconhecimento do cacife eleitoral. Em Belo Horizonte, o velho ditado ganhou corpo e as ruas da cidade. E não é preciso ir ao Mercado Municipal ou à praça Sete, no centro da capital – passagem obrigatória de qualquer político em época de campanha -, para constatar que dois políticos incorporaram a máxima baiana. Com a autoridade de mais de 80% de aprovação popular, tanto o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), quanto o prefeito de BH, Fernando Pimentel (PT), resolveram unir suas forças e bandeiras e indicar para o cargo mais cobiçado da política local um empresário completamente desconhecido da esmagadora maioria dos quase 2,4 milhões de habitantes do município. Tratase de Márcio Lacerda (PSB), que no passado, como militante da ALN de Carlos Marighella, participou de assaltos a bancos e seqüestros para combater a ditadura militar. Nos três anos em que ficou preso, Lacerda disse à ISTOÉ que "aprendeu a sonhar com os pés no chão".

Aos 62 anos, formado em administração de empresas pela UFMG, casado, três filhos, Lacerda foi assessor do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) quando este era ministro da Integração Nacional. Até pouco tempo atrás, o atual candidato era lembrado principalmente por ter sido citado nos jornais mineiros na época do "Mensalão", quando foi acusado pela Polícia Federal de ter sacado R$ 457 mil dos cofres do empresário Marcos Valério para ajudar a campanha presidencial de Ciro Gomes em 2002, da qual ele foi coordenador financeiro. "Fui inocentado", lembra Lacerda. Empresário do ramo das telecomunicações, ele enriqueceu antes das privatizações do setor. Seu patrimônio declarado é de R$ 55 milhões. Na vida pública Lacerda, além de assessor do Ministério de Integração Nacional, foi secretário de Desenvolvimento Social do governo de Aécio Neves e nunca disputou nenhum cargo eleitoral.

Até agora, o candidato de Aécio e Pimentel está em terceiro lugar na corrida eleitoral – nas pesquisas, mal chega a ter 5% das intenções de voto. Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, acredita que, com pouco mais de dez dias de propaganda eleitoral, Lacerda deve se tornar conhecido na cidade. "Ele tem potencial para chegar a 40% dos votos nesse período", diz Coimbra. No passado, a Prefeitura de Belo Horizonte sempre foi aguerridamente disputada por petistas, socialistas e tucanos mas desta vez a campanha deve ser amorfa. A explicação é simples: seus fiadores, Fernando Pimental e Aécio Neves gozam de alto índice de aprovação. Por isso, a candidatura de Lacerda corre pouco risco de ser bombardeada pela oposição. Nem mesmo a comunista Jô Morais (PCdoB), que é deputada federal e candidata apoiada pelo vice-presidente da República, José Alencar, quer briga. Ela prefere o discurso do "vamos continuar, mas com avanços". Jô, que lidera na última pesquisa, com 20% das intenções de votos, segundo o Instituto CP2/Data Tempo, pretende unir em torno de si os descontentes com a aliança PSDB/PT.

O certo é que nunca em Belo Horizonte um candidato contou em seu palanque com o apoio dos palácios do Planalto, da Liberdade e da prefeitura para a eleição. "A aprovação de Lula, Aécio e Pimentel inibe uma atitude crítica da oposição", explica Coimbra. É na vitória de Lacerda que Pimentel e Aécio apostam suas fichas para as eleições de 2010. O primeiro quer o Palácio da Liberdade e o segundo, o Palácio do Planalto. Agora, só falta combinar com o eleitorado.

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AS CAMPANHAS MAIS CARAS DO BRASIL
Onde o eleitor é mais caro? Em metrópoles grandes e complexas como São Paulo e Rio de Janeiro ou nas capitais menores, municípios com menos de 200 mil eleitores? Até as 14h da quinta-feira 10, o Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais tinham disponibilizado as previsões de gasto nas campanhas dos candidatos a prefeito em 17 das 26 capitais. Ao levantar as previsões divulgadas, ISTOÉ chegou a um dado surpreendente. Gilberto Kassab, o candidato do DEM à Prefeitura de São Paulo, que fará em números absolutos a campanha mais cara do Brasil, prevê gastar menos de R$ 4 por eleitor. Em Boa Vista ou em Palmas, atrair o voto de cada cidadão custa o equivalente ao almoço em um restaurante de qualidade média. Iradilson Sampaio, do PSB; Luciano Castro, do PR; Nilmar Ruiz, do DEM; e Marcelo Lélis, do PV, deverão gastar mais de R$ 30 por eleitor nas eleições que disputarão na tentativa de se tornarem prefeitos das capitais de Roraima e do Tocantins.

Engavetado no Congresso, o projeto de lei 2679/03, que propõe a adoção do financiamento público de campanha, prevê um gasto de R$ 7 por eleitor. Se viesse a ser aprovado, o projeto poderia baratear as eleições do País. A campanha de Kassab, por exemplo, prevê gastos de R$ 30 milhões. O custo por eleitor para o candidato do DEM em São Paulo, porém, será de R$ 3,65. Marta Suplicy, do PT, e Geraldo Alckmin, do PSDB, que farão as segundas campanhas mais caras do País, ambos prevendo R$ 25 milhões, gastarão R$ 3,05 por eleitor. Se fosse R$ 7 por eleitor, como quer o projeto, a campanha em São Paulo sairia por R$ 57,4 milhões. Hoje, só os três principais candidatos prevêem gastos de R$ 80 milhões.

Nas capitais menores, as previsões não diminuem na mesma proporção da população. São Paulo tem 8,2 milhões de eleitores, Palmas tem 160 mil e Boa Vista, 128,5 mil. Iradilson Sampaio e Luciano Castro estimam suas campanhas em até R$ 5 milhões na capital de Roraima. E Marcelo Lélis, R$ 4 milhões em Palmas. No custo previsto no financiamento público, teriam de reduzir os orçamentos para R$ 899,2 mil em Palmas e R$ 1,1 milhão em Boa Vista.

Nas capitais maiores, as eleições mais caras proporcionalmente serão em Belo Horizonte e Fortaleza. Márcio Lacerda, do PSB, prevê R$ 7,97 por eleitor, ou R$ 14 milhões no total. Luizianne Lins, que tentará a reeleição pelo PT em Fortaleza, estima gastar R$ 6,79 por eleitor, ou R$ 10 milhões. Sua adversária Patrícia Saboya, do PDT, prevê um total de R$ 9,75 milhões, o que dá um custo por eleitor de R$ 6,62.

Essa estimativa de custo de campanha é obrigatória, mas serve como um teto do que o candidato espera arrecadar. Em geral, na prestação oficial de contas apresentada à Justiça Eleitoral após a disputa, as despesas reais costumam ser bem inferiores a esse orçamento inicial.

RUDOLFO LAGO


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