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Entre os chineses ele é conhecido como Sagarmatha, expressão que significa “rosto do céu”. E não é à toa. Com 8.850 metros de altitude, o monte Everest representa o pico do mundo: o lugar mais alto da Terra, espécie de ponte metafórica para o céu erguida em pleno Himalaia. Mas esse lendário e bonito cenário está mudando. No último relatório do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas da ONU foi dado o alerta: 80% das geleiras do Himalaia vão desaparecer em menos de 30 anos.

O que antes era um vale coberto de neve com colunas de gelo pontiagudas de até 20 metros de altura (nas montanhas que se formam na geleira Rongbuk, a maior ao norte do Everest) cedeu espaço para uma floresta de gelo. “Grande parte da Rongbuk desapareceu. Como ela, outras estão diminuindo”, declarou na semana passada o cientista Zhang Yongze, diretor do departamento de proteção ambiental da região do Tibete. Parecendo um problema isolado, mas sendo de interesse global, o derretimento do Everest representa ameaça ao fornecimento de água a um sexto da população mundial.

Nos últimos dez anos, o maior dos “paredões” do Everest, justamente a geleira Rongbuk, derreteu 150 metros. Um grupo de alpinistas assessorados pelo Programa de Ambiente da ONU (Unep) informou, após uma visita de duas semanas à região, que o impacto do aumento das temperaturas pode ser visto em todo lugar. “A paisagem mostra as rachaduras na geleira, enquanto a quantidade de lagos glaciais aumenta devido ao gelo derretido”, disse o porta-voz da Unep, Michael Williams. O chefe da Associação de Alpinismo do Nepal, Tashi Jangbu Sherpa, disse por sua vez que os campos de gelo sofreram uma “mudança radical nos últimos anos e isso nos dá medo”. Eis um dos motivos desse temor: são as geleiras do planalto de Qinghai-Tibet que alimentam os grandes rios da Ásia, entre eles o Amarelo, o Yang-tse, o Mekong e o Ganges. Em suas margens vivem centenas de milhões de pessoas que estão em risco devido aos 40 lagos glaciais que foram formados com o derretimento das geleiras e estão prestes a transbordar.

A temperatura global poderá aumentar, ao longo de um século, entre 1,4 grau centígrado e 5,8 graus, de acordo com as estimativas dos pesquisadores. E esse quadro só será revertido se os governantes dos mais diversos países tomarem atitudes para diminuir a emissão dos chamados gases que causam o efeito estufa – sobretudo o dióxido de carbono. Como se o mundo colocasse cada vez mais lenha na fogueira do Everest, o monte gelado, paradoxalmente, está ardendo com o aumento incessante da temperatura: no Himalaia ela sobe 0,4 grau por década, o que representa o dobro da média chinesa e o triplo da mundial. Ou seja, o maior pico do mundo está aquecendo mais rapidamente que o restante do planeta.

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